​Jamais serei idosa
11-02-2021 - 20:50

A partir de que idade perdemos a nossa identidade?

Jamais serei idosa! Não se deixem enganar pela entrada, faço questão de morrer tarde e, se possível, ser uma “velha gaiteira”.

As palavras são o que são e têm o sentido que lhe quisermos dar, eu não gosto da palavra “idoso”. Bem sei que é uma categorização fácil para podermos arrumar as pessoas por idades: criança, jovem, adulto, meia-idade, idoso. Lamento, mas não.

E porque é que eu não gosto da palavra? Uma questão de perceção, a minha, claro. Idoso parece uma forma de dizer “última estação”. Idoso é aquele que se conforma, que acha que já não vale a pena, que deixa de ser criativo, de viver avidamente, de amar e ser amado pelos que o rodeiam. E não estou apenas a falar do amor dos filhos e dos netos, estou a falar do direito de partilhar os dias, as horas e o futuro, sim o futuro, com alguém ao seu lado. Volto a dizer, é apenas a minha forma de ver e sentir a questão.

E agora uma verdade que todos sabemos, mas sobre a qual provavelmente não paramos para pensar: ninguém se sente com a idade que tem. Se pensar bem nesta questão relativamente a si, vai ver que é verdade. Podemos dizer que há duas versões de nós, a forma como nos vemos e a forma como os outros nos veem. Tenho para mim que a primeira influencia a segunda.

Foquemos-mos na segunda versão para falar de um assunto que me incomoda, a partir de que idade é que perdemos o direito à nossa identidade? A partir de que idade é que passamos a ser “velhinhos amorosos” (ou não), “avozinho ou avozinha” e nos deixam de tratar pelo nome, pelo que valemos, pelo que continuamos a ser. Porque é que o Dr. Francisco ou o Sr. António passam a ser simplesmente idosos quando chegam a determinada idade?

Ao longo da minha vida profissional estive muitas vezes próxima desata faixa etária, quer conhecendo pessoas fantásticas e sábias que já lá chegaram, quer aprendendo com profissionais das mais diversas áreas que têm refletido muito sobre este assunto.

Os meus pais vão a caminho dos oitenta e não, para mim nunca serão idosos. Para mim são e serão o Rogério e a Mariana.

Um destes dias, quando lá chegar, posso ficar rabugenta e refilona (há coisas que se acentuam) mas debaixo daquelas rugas e cabelos brancos continuarei a ser a mesma e gostaria de ser tratada como tal.

Obviamente terão de me ouvir a contar histórias repetidas dos meus amores: a minha família e a minha profissão. Se tiverem consideração vão fingir que nunca ouviram, mantendo o olhar interessado de quem ouve pela primeira vez.

Se a reação for de enfado e falta de paciência, há uma coisa que ainda não vos disse: com a idade, reservo-me o direito de dizer tudo o que penso, ainda mais que hoje.

Por todas estas razões, jamais serei idosa! Está comigo?