Meia centena de médicos, enfermeiros e assistentes operacionais juntaram-se esta quinta-feira em frente ao Hospital Santa Maria, em Lisboa, em solidariedade com os profissionais de saúde do serviço de ginecologia e obstetrícia, que encerra em agosto para obras.
Num cordão humano solidário, quiseram mostrar apoio aos profissionais daquele serviço, que mantêm um braço de ferro com o Conselho de Administração desde a exoneração do diretor do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução, Diogo Ayres de Campos, e da diretora do Serviço de Obstetrícia, Luísa Pinto, que também participaram na iniciativa.
Os médicos e enfermeiros recusaram falar com os jornalistas, alegando não terem autorização, e foi Afonso Moreira, representante do Sindicato dos Médicos da Zona Sul, que integra a Federação Nacional dos Médicos (FNAM), que apelou ao diálogo, tanto com a administração como com a tutela, sublinhando a importância deste serviço do maior hospital do país.
“Estamos a solidarizar-nos com a postura dialogante e proativa que os médicos e médicas deste serviço têm assumido”, disse o responsável, sublinhando que “esta situação de tensão não foi criada pelos médicos” e que as exonerações surgiram depois de estes profissionais expressarem “preocupações sobre o processo de encerramento da urgência obstétrica” por causa das obras.
Sublinhou que “tem havido sempre uma postura proativa” por parte dos médicos e que o mesmo não tem acontecido “do outro lado”.
“Nós respeitamos muito o valor técnico científico dos nossos colegas e, portanto, achamos que quem está melhor colocado para dirigir estas transições e estas mudanças têm obviamente de ser as chefias, que têm a confiança dos médicos e médicas deste serviço”, afirmou o responsável, insistindo na “restituição dessas chefias para restabelecer a tranquilidade ao serviço”.
Na semana passada, dezenas de médicos do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução (DOGMR) do Hospital Santa Maria pediram ao ministro da Saúde uma intervenção “pessoal, direta e urgente” para que a direção afastada seja readmitida.
Numa carta enviada a Manuel Pizarro, os profissionais do Santa Maria consideram que os médicos Diogo Ayres de Campos (que era diretor do DOGMR) e Luísa Pinto (que dirigia o Serviço de Obstetrícia) “foram injustamente afastados das suas funções”.
Questionado hoje pelos jornalistas sobre esta matéria, o dirigente sindical afirmou: “É preciso restabelecer a normalidade neste serviço e isso não se faz com exonerações. Portanto, os colegas estão empenhados e têm todo o apoio, e este cordão solidário também demonstra isso, que há aqui uma união, não só de médicos, como enfermeiros e outros profissionais de saúde”.
Face a estas exonerações, explicou, “o serviço está a necessitar de avançar já com uma solução que estava prevista para os próximos meses, e não para agora, que é o envio de grávidas para o setor privado, e isso tem como causa também a situação de tensão que foi criada”.
“Não está a ser realizado um bom serviço na defesa da saúde das grávidas e das suas famílias com este tipo de tensão que está a ser criada”, insistiu.
Questionado sobre se, neste momento, está assegurada a segurança das grávidas que se dirigem ao Santa Maria, respondeu: obviamente que, não havendo a manutenção de equipas completas, tal como é referido pela ordem dos médicos, (...) isso preocupa-nos muito e, portanto, é uma situação completamente insustentável do ponto de vista político manter serviços nessa situação".
O representante sindical lembrou ainda que esta tensão surge “no contexto de uma grande contestação, que os médicos têm realizado, não só por questões de serviço e de encerramento de serviços, mas também pela valorização das suas carreiras”.
Lembrando que o sindicato tem “linhas vermelhas”, acrescentou: “queremos que o internato seja o primeiro grau da carreira - são 1/3 dos médicos do SNS e não há nenhuma razão para não terem essa valorização - e que [a proposta] de aumento do limite das horas extraordinárias para 350, que não faz qualquer sentido (…) seja removida e que haja equidade e universalidade nas propostas, que não seja só para afetar este ou aquele grupo de médicos”.
“Médicos de carreira hospitalar, dos cuidados de saúde primários e de saúde pública têm de ser valorizados de uma maneira transversal”, acrescentou.