São João Paulo II instituiu as Jornadas Mundiais da Juventude em 1985 dizendo que “a Igreja deve olhar para os jovens como a sua esperança”. Foi na conclusão do Ano Internacional da Juventude, decretado pelas Nações Unidas, e as Jornadas foram o legado mais vivo daquele ano. Celebraram-se já 15 vezes pelo mundo fora, arrastando multidões em cada edição, não apenas para ver o Papa, mas para celebrar a Esperança que João Paulo II evocou, numa mensagem que se repetiu e se repete a cada edição. É uma honra para qualquer país receber a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e Portugal estará à altura do enorme desafio.
Encerrada há já algum tempo a minha vida política ativa, é precisamente a preocupação com os jovens e o seu futuro que justifica hoje boa parte da minha intervenção cívica. É, de facto, fundamental dar-lhes condições para que sejam o fermento de um Portugal mais dinâmico, com mais ambição, melhor qualidade de vida, mais igualdade de oportunidades e mais justo.
A JMJ 2023 é uma oportunidade para centrarmos as atenções nas justas ambições dos jovens do nosso tempo. Os jovens não são apenas a esperança para a Igreja, são a esperança para o nosso país. Os jovens de 1985 são os adultos maduros de hoje, muitos deles já avós. E é inequívoco que as condições de vida que tiveram foram melhores do que as condições dos seus pais e dos seus avós.
Se isso não significa que tudo o que foi feito nestas cinco décadas foi acertado, permite-nos pelo menos dizer que a evolução social do país desde a Revolução de Abril aconteceu. Foi perdendo ritmo e é por isso provável que as gerações mais novas não tenham um nível de vida melhor do que o dos seus pais e avós. E porque rapidamente da esperança se pode passar ao desespero e à desistência, devemos olhar com atenção para o nosso futuro coletivo, para que seja um futuro de esperança e não de desistência.
De facto, os salários portugueses continuam baixos, mesmo para aqueles que dispõem de qualificações superiores. O salário médio está próximo do salário mínimo e, como foi evidenciado por um recente estudo da Fundação José Neves (“O estado da educação, do emprego e das competências em 2022”), cada vez é menos remunerado o investimento em qualificação superior. Daí que os jovens de talento, com ambição legítima de subir na vida, procurem outros países para a concretização dos seus sonhos.
O que permitirá que os jovens portugueses aqui se fixem e melhorem a sua qualidade de vida? Redirecionar a economia, apostando na criação de valor, no investimento produtivo e inovador nos sectores abertos à concorrência externa, nas exportações de elevado valor acrescentado e no crescimento da produtividade e da competitividade das empresas. Isto gerará lucro e este, por sua vez, gerará mais investimento e riqueza, melhores salários e mais empregos qualificados. Os fundos comunitários (que estão a ser dirigidos a Portugal em montantes nunca antes verificados) devem potenciar, por isso, este aumento da produtividade e da competitividade e não devem ser apenas uma forma de atirar dinheiro para cima de problemas, sem os resolver.
Destacaria outro aspeto para o qual já há anos, ainda como Presidente da República, alertei e que foi amplamente desenvolvido no referido estudo da Fundação José Neves: os nossos sistemas de ensino e de formação profissional têm de acompanhar as exigências dos mercados atuais e as necessidades das empresas. A digitalização da economia é uma realidade amplificada pela pandemia e, seja no ensino, seja em formação profissional, é crucial para os jovens ganharem competências digitais para o mundo que os espera.
Além das competências, da educação e das oportunidades profissionais, os jovens precisam também de valores. Enquanto país independente, Portugal foi forjado na tradição cristã e a nossa civilização europeia assenta num conjunto de valores de origem judaico-cristã. Culturalmente, os nossos valores assentam na caridade e no serviço ao próximo, valores esses que devem também inspirar aqueles que se dispõem a exercer cargos públicos e políticos.
A mensagem de esperança, que foi de João Paulo II e de Bento XVI e que traz agora o Papa Francisco a Lisboa, transcende o nosso horizonte e projeta-se no futuro da Igreja e no futuro do nosso país. A JMJ 2023 é por isso também uma oportunidade para despertar nos jovens um sentido de missão, para que possam ser mais conscientes, mais preocupados com “o próximo”, com o meio que os rodeia, derrotando o individualismo que parece ser uma das marcas mais vincadas dos nossos dias.