Um total de 547 rapazes terão sido alvo de abusos por parte de sacerdotes e professores ligados ao famoso coro Domspatzen, na Baviera, anunciou esta terça-feira o advogado responsável pela investigação.
Ulrich Weber, que divulgou um novo relatório com 450 páginas, diz que muitos dos casos remontam aos anos 1970, mas há indícios de abusos cometidos ao longo de seis décadas.
O relatório implica 49 pessoas e acusa a Igreja Católica de ter fomentado uma “cultura de silêncio” que permitiu aos suspeitos prolongarem os abusos durante anos.
O documento cita os testemunhos de muitas das vítimas de abuso, que descrevem a sua experiência no coro como “uma prisão”, “um inferno” e até “um campo de concentração”, avançou Weber, acrescentando que muitos falam desses anos como “os piores tempos das suas vidas, marcados pelo medo, pela violência e pelo desespero”.
As primeiras acusações envolvendo o famoso coro de Domspatzen surgiram em 2010. Em 2013 mais de 400 alegadas vítimas divulgaram detalhes dos abusos que sofreram às mãos de adultos ligados ao grupo coral.
O coro foi dirigido por Georg Ratzinger, irmão mais velho do Papa emérito Bento XVI entre 1964 e 1994, período em que se acredita que a maior parte dos casos tenha ocorrido.
Em declarações a um jornal alemão, quando se soube das suspeitas, Georg Ratzinger garantiu que nunca teve qualquer conhecimento de abusos e que o assunto nunca foi abordado ou falado enquanto esteve em funções. O advogado responsável pela investigação considera improvável que não tivesse sabido pelo menos de alguns casos.
O relatório divulgado esta terça-feira por Ulrich Weber revela que o número de alegadas vítimas foi muito superior ao que inicialmente se suspeitava e que houve abusos anteriores a 1945, embora a maior parte dos casos relatados se situe nas décadas de 1960 e 1970. A última denúncia de abuso data de 1992.
Weber espera que os dados agora divulgados ajudem as vítimas a encontrar paz e a pôr um fim ao sofrimento.
A diocese de Ratisboma ainda não reagiu a estes novos dados, mas tem estado a colaborar com os representantes das vítimas desde que as primeiras acusações foram tornadas públicas. No início de 2016, a diocese admitiu pagar indemnizações às vítimas, entre 5 mil e 20 mil euros.