Noutros tempos eram considerados uma “praga” que desassossegava as noites de Verão, mas agora são a nova “arma” de combate às pragas de insectos nas culturas no Vale do Tua, em Trás-os-Montes, evitando o uso de insecticidas.
O mais recente projecto do Parque Natural Regional do Vale Tua está a distribuir por propriedades agrícolas dos cinco concelhos de influência, 50 abrigos para morcegos, com o propósito de criar condições para este animal se instalar, reproduzir e ajudar a combater pragas como a mosca da azeitona, borboletas e outros insectos que destroem as culturas.
Os agricultores estão a aderir ao projecto, com alguma surpresa, principalmente aqueles que, como Eduardo Cabanelas, nunca tinham olhado, nesta perspectiva, para os morcegos que antigamente irrompiam nas noites quentes de Verão passadas à porta de casa nas aldeias.
Eduardo Caravelas é o responsável pela propriedade agrícola, em Frechas, no concelho de Mirandela, onde o projecto foi apresentado e confessou que ficou “um bocadinho surpreendido”.
Mais entusiasmado pareceu António Aires, do concelho de Murça, que acha “o projecto bastante interessante”. Resta-lhe apenas uma dúvida, a de se haverá morcegos em número suficiente. “Quando era jovem, lá na minha aldeia, nas noites de Verão, via muitos morcegos lá pela rua, e hoje não se encontra quase um”, observou.
Evitar os pesticidas
O projecto abrange ainda propriedades agrícolas dos concelhos de Carrazeda de Ansiães, Vila Flor e Alijó que, juntamente com Mirandela e Murça, fazem parte do parque.
O presidente do parque, Artur Cascarejo, explicou que esta iniciativa resulta de uma candidatura ao Fundo de Preservação da Natureza e da Biodiversidade, do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), contemplada com cerca de 200 mil euros com objectivo de utilizar a biodiversidade para ajudar a combater as pragas agrícolas e evitar o uso de pesticidas.
No caso do parque do Vale do Tua trata-se de pragas de insectos que afectam culturas como a vinha e o olival, mas também a floresta.
O projecto tem a duração de três anos e uma componente prática e outra científica.
A prática é a colocação das caixas/abrigo em propriedades agrícolas e a cientifica é a investigação e estudo do projecto para avaliar os resultados em parceria com agricultores, associações agrícolas e o Centro de Investigação em Biodiversidade da Universidade do Porto.
A investigadora Vanessa Mata explicou que, pela sua capacidade de comer milhares de insectos por noite, os morcegos “são animais que conseguem ser um bom regulador de pragas” e muitas das pragas encontradas nas culturas da região são borboletas nocturnas.
Abrigos precisam-se
Na zona do Vale do Tua existem várias espécies de morcegos que têm um problema: a falta de abrigo.
Acabam por ocupar cavidades nas árvores ou construções antigas desocupadas que vão escasseando nas propriedades agrícolas, como explicou a investigadora.
“Colocando um poste com as caixas estamos a oferecer-lhes o que lhes falta e a aumentar a probabilidade de se alimentarem nestas zonas”, apontou.
O parque contratou um jovem biólogo, Pedro Leote, que vai acompanhar o projecto e que esclareceu que estas caixas ”são feitas de uma mistura de cimento e de serradura, têm propriedades muito interessantes a nível do isolamento térmico” para (os morcegos) não morrerem de calor, no verão, ou de frio, no inverno.
As caixas colocadas em cima de postes, tem um tempo de vida de cerca de 30 anos e, embora pequenas, os promotores garantem que conseguem albergar entre dez a 15 animais.
Pedro Leote indicou que “há estudo que dizem que os morcegos demoram dois meses a entrar nas caixas, há outros que dizem três anos”.
“Neste momento, aquilo que nós temos de fazer é deixar a natureza seguir o seu curso, os morcegos explorar e começarem a fixar-se”, concluiu.
No próximo domingo, o parque inaugura mais um percurso
pedestre de pequena rota, englobado na Rede de Percursos Pedestres do
Parque Natural Regional do Vale Tua.