O Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), organismo público na dependência direta do primeiro-ministro, foi informado do caso dos refugiados ucranianos, por carta, há um mês (consulte o documento em PDF).
A informação foi avançada à Renascença pelo presidente da Associação de Ucranianos em Portugal, Pavlo Sadokha.
O email a denunciar que refugiados estavam a ser recebidos por associações pró-Rússia foi enviado a 2 de abril e não obteve resposta, até agora.
“Nós, antes de enviarmos esta carta ao Sistema de Informações da República Portuguesa, tivemos um encontro com a alta comissária para as Migrações onde, mais uma vez, alertámos para a situação de organizações ligadas à embaixada russa, à Agência Rossotrudnichestvo, à fundação Russki Mir, que estão muito bem identificadas como agências de propaganda do Estado russo, que eles não pode ser apresentados pelo Alto Comissariado como organizações ucranianas.”
Depois desta reunião com a alta comissária para as Migrações, Sónia Pereira, a Associação de Ucranianos em Portugal enviou um email à secretária-geral do SIRP a denunciar a situação. Até ao momento, não chegou qualquer resposta, garante Pavlo Sadokha.
“A nossa carta era a denunciar que existe este problema. Não tivemos nenhuma resposta nem nenhum contacto, nem do Alto Comissariado nem do SIRP. Infelizmente, não tivemos nenhuma reação do Governo, mas tivemos uma reação por parte dos jornalistas portugueses” que investigaram o caso, sublinha.
O email enviado pela Associação de Ucranianos ao Sistema de Informações da República, a 2 de abril, denunciava a atividade de propaganda e desinformação de diversas organizações russas - próximas do Kremlin - que, por via de algumas ONGs criadas em Portugal, estariam na altura a preparar-se para acolher refugiados ucranianos.
O email diz que essas organizações - incluindo a Fundação Russki Mir - criaram associações em Portugal, que apesar de se apresentarem como multiculturais, nos seus estatutos, estão na realidade ligados à embaixada da Federação Russa.
A mensagem eletrónica - a que a Renascença teve acesso- inclui um dossier detalhado sobre as organizações e os seus agentes de influência da embaixada russa em Portugal.
Lê-se depois que "o agravante desta situação é que essas organizações são reconhecidas, em Portugal, pelo ACM - o Alto Comissariado para as Migrações".
É também referido que "a Associação dos Ucranianos em Portugal, bem como a embaixada, por várias vezes alertaram o ACM e os respetivos secretários de Estado da tutela sobre o inaceitável facto de a comunidade ucraniana em Portugal ser representada por associações que fazem parte de instituições de propaganda russa".
Este mail dirigido pela associação de ucranianos ao Sistema de Informações da República, a 2 de abril, apresenta em link as informações avançadas pela Renascença, a 24 de março e a 1 de abril.
A Iniciativa Liberal (IL) vai chamar ao Parlamento a secretária-geral do SIRP, Graça Mira Gomes, para esclarecimentos sobre o caso dos refugiados ucranianos recebidos por associações pró-Putin. O pedido foi avançado à Renascença pelo líder parlamentar da Iniciativa Liberal, Rodrigo Saraiva.