A Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP) defende a necessidade de aumentar o preço do tabaco e haver uma lei menos permissiva, para travar os hábitos tabágicos, sobretudo nas camadas mais jovens.
Em declarações à Lusa a propósito dos dados do relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR) 2022, José Alves destacou o facto de os hábitos tabágicos terem diminuído globalmente entre 2014 (20%) e 2019 (17%), mas manifestou alguma preocupação com as taxas de fumadores nos grupos etários mais baixos (15-24 anos).
"Os hábitos tabágicos condicionam a epidemiologia de duas doenças fundamentais em termos de qualidade de respiratória nacional: a DPOC [Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica] e o cancro do pulmão", sublinhou o especialista, considerando "muito bom" que os valores globais estejam a cair.
"Não só não aumentou, como reduziu entre 2014 e 2019 nos homens e nas mulheres. Mostra que o país não está no pico. Depois de descer podemos esperar, em duas décadas, que comece a diminuir a prevalência do cancro do pulmão, que está a aumentar", acrescentou.
José Alves diz que os hábitos tabágicos, além do sentimento de pertença (nas camadas mais jovens), estão muito relacionados com a desinformação e a falta de literacia da população e frisa que há dois momentos para ajudar a reduzir estes hábitos: "um é desde tenra idade, nunca começar a fumar, e outro é ter uma lei menos permissiva e aumentar o preço do tabaco".
"Nunca ninguém viu alguém ser multado por estar a fumar em lado nenhum", lamentou, sublinhando que, "apesar desta falta de efetividade [da lei]", o hábito tabágico baixou.
Outro dos pontos destacados pelo presidente da FPP, que elaborou o relatório que é hoje apresentado no Porto, é a necessidade de reduzir os valores do subdiagnóstico, apostando nas espirometrias (exame que serve para diagnosticar a doença pulmonar). Referiu ainda que menos de metade dos doentes referenciados com DPOC fez espirometria, insistindo na importância deste exame.
A este nível, destacou a iniciativa que a FPP desenvolveu, nos fins de semana de junho e julho, em todas as capitais de distrito do país, conseguindo fazer 1.200 tele-espirometrias: "Foi um rastreio em que havia dois objetivos: um era encontrar mais doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica e o outro era demonstrar que é possível fazer muita espirometria sem sair da secretária e sem ser no hospital".
"Podemos imaginar-nos daqui a dois, três ou cinco anos a ter uma visão muito mais assertiva do que é a saúde respiratória dos portugueses, dos que não fumam e dos que fumam, e poder prever os malefícios do tabaco", acrescentou.
Esta iniciativa da FPP mostrou o efeito agressivo do hábito tabágico e a necessidade de fazer o diagnóstico o mais cedo possível. Segundo os dados preliminares, os resultados para a função respiratória normal foram mais elevados nos não fumadores (83%), que apresentaram menor percentagem (4%) de casos de síndrome obstrutiva (8% nos fumadores).
"Todo este trabalho do rastreio do cancro do pulmão, da mama e do cólon é muito meritório, mas nós temos aqui um rastreio que pode e deve ser feito para a doença prevenível que mais mata em Portugal e em todo o mundo, que é a DPOC", acrescentou o responsável, sublinhando que "uma espirometria destas custa o preço e dois maços de tabaco".