Pelo menos 328 pessoas foram mortas e 14.825 detidas nos protestos no Irão desencadeados pela morte de uma mulher em 16 de setembro após ser detida pela polícia de costumes, avançou esta quinta-feira o grupo Ativistas dos Direitos Humanos do Irão.
Segundo o grupo, que acompanha os protestos há 54 dias, o anúncio do número de vítimas visa enfrentar o silêncio mantido pelo Governo do Irão há várias semanas e as informações avançadas pela imprensa estatal, que garante que as forças de segurança não mataram ninguém.
As manifestações, que são já consideradas a maior ameaça ao regime teocrático do Irão desde a Revolução Islâmica, em 1979, deverão intensificar-se nos próximos dias, à medida que as pessoas vão para as ruas para marcar o luto dos 40 dias pelos primeiros manifestantes mortos, uma cerimónia comum em vários países do Médio Oriente.
Apesar de o Governo e o Exército terem renovado as ameaças contra a dissidência local e o mundo em geral, as várias cerimónias do luto dos 40 dias ameaçam tornar os protestos em confrontos cíclicos entre um público cada vez mais desiludido e as forças de segurança que recorrem a uma violência cada vez maior.
No dia 26 de outubro, quando se assinalou o 40.º dia desde a morte da jovem Mahsa Amini, centenas de pessoas reuniram-se à frente do seu túmulo, apesar de o gabinete do governador provincial ter anunciado que "a família não ia assinalar a data".
O dia foi assinalado com vários protestos, sobretudo em universidades.
Vídeos divulgados hoje na internet a partir do Irão -- apesar dos esforços do Governo para suprimir a internet -- mostram manifestações em Teerão e outras cidades, onde é possível ver o uso de gás lacrimogéneo contra gritos de "Morte ao Ditador", um canto que se tornou comum nos protestos contra o líder supremo do Irão, Ali Khamenei.
Não ficou imediatamente claro se houve feridos ou detidos nestes protestos, embora a agência de notícias estatal iraniana IRNA tenha reconhecido as manifestações como sendo as de Isfahan.
Entretanto, o comandante da Força Aeroespacial da Guarda Revolucionária Islâmica, Amir Ali Hajizadeh, anunciou hoje, sem apresentar provas, que as suas forças adquiriram mísseis hipersónicos.
Os mísseis hipersónicos voam a uma velocidade cinco vezes superior à velocidade do som, representando uma ameaça aos sistemas de defesa antimísseis.
Acredita-se que a China e os Estados Unidos estejam a tentar adquirir este tipo de armas, enquanto a Rússia afirma já estar a colocá-las em campo e garante que já as usou na Ucrânia.
O Irão culpa a Arábia Saudita, o Reino Unido, Israel e os EUA por fomentarem distúrbios no país, tendo os responsáveis do Governo avisado que a "paciência pode esgotar-se" numa ameaça velada a estes países.
Mahsa Amini morreu num hospital em 16 de setembro, três dias após ser detida pela polícia da moralidade por usar o véu islâmico alegadamente de forma incorreta. Desde então, os protestos mantêm-se, sendo duramente reprimidos pelas forças de segurança.
A indignação no Irão pela morte de Mahsa Amini provocou a maior onda de protestos contra o Governo desde as manifestações contra o aumento dos preços da gasolina de 2019, num país rico em petróleo.