“Se puser todos os camiões a andar de noite, a VCI tem uma capacidade que é muito, muito grande”.
A frase é do professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Álvaro Costa, que explica que a Via de Cintura Interna (VCI), no Porto, está na capacidade máxima cada vez durante mais tempo, ao longo do dia.
A estrutura tem capacidade para mais veículos, mas isso significará que os condutores passarão mais horas fechados nos carros, em fila, à espera de chegar ao destino.
Este especialista em mobilidade lembra que a via “não tem tráfego durante muitas horas”, por exemplo à noite, e que, se "puser todos os camiões a andar de noite” e “as pessoas a sair às 10 ou 11 da noite do emprego”, tudo podia mudar.
Álvaro Costa lembra que há cidades que já tiveram que o fazer, mas reconhece que essa medida traria “uma desorganização social muito grande”.
No imediato, o professor da FEUP diz que a solução para o excessivo volume de tráfego na VCI, seria “numa primeira fase, tirar as portagens das vias circulares, a A4 e a 41”.
“O que se está a passar, nesta área metropolitana, é que temos as circulares todas taxadas, exceto a VCI. O que faz com que as pessoas tendam a usar a VCI em vez das outras circulares. Não devemos, pelo preço, fazer com que as pessoas escolham a Via de Cintura Interna. Temos de fazer exatamente o contrário”, sublinha.
Dá mesmo um exemplo: “Uma pessoa que queira ir de Matosinhos para Ermesinde, um percurso com vias diretas, provavelmente fica-lhe mais barato ir à VCI. Vai de Matosinhos ao Porto, circula pela VCI e depois sai para Ermesinde. Isto não faz sentido nenhum."
Para o professor da FEUP, as alterações nas portagens, só não acontecem devido à má gestão. “Os decisores, o que vêem são receitas e não gestão. Ao gerirem mal, têm mais receita. E depois nós temos as estradas com mais capacidade praticamente vazias, por causa do custo acrescido que pusemos na sua utilização. Portanto, temos hoje um sistema irracional. Temos uma parte das vias muito subutilizada e uma parte das vias muito sobre utilizada”, conclui Álvaro Costa.
O especialista pede ainda uma melhoria na oferta de transportes públicos que ligam a periferia ao centro da cidade, uma vez que “há muitas pessoas a ter de passar para um veículo individual porque não pode entrar nos autocarros, ou porque não pode entrar nos comboios” que estão lotados.