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A CDU começou a campanha debaixo da incógnita que, na realidade, só nas eleições legislativas de domingo será esclarecida: vai continuar a cair ou estanca a sangria de votos?
Paulo Raimundo, passou a ser o principal rosto do Partido Comunista, sucedendo ao carismático Jerónimo de Sousa. Em duas semanas de campanha ganhou ritmo próprio.
Primeiro foi o "pé de microfone". Nas iniciativas de campanha mais pequenas, foi dispensando o suporte, justificando algo como "parece que isto é um obstáculo".
Aos poucos, foi-se depois libertando da rigidez do papel (que, ainda assim, foi mantendo nos discursos dos comícios mais de peso, como no Rossio, em Lisboa).
De conversa fácil e bem-disposta, nas ações de rua não se intimidava em abordar quem passava, mesmo correndo o risco de alguns não quererem aceitar o panfleto da CDU que Raimundo distribuía.
Não raras vezes, este antigo padeiro que, segundo o próprio, fazia “umas carcaças mal-amanhadas”, pegou em interpelações que lhe fizeram – por populares ou jornalistas – que depois, em jeito de improviso, passou a incorporar nas mensagens que pretendia transmitir.
Paulo Raimundo também nunca se recusou a comentar as polémicas que foram surgindo, quase sempre ligando às bandeiras que defendem.
A campanha da CDU teve também fôlego novo nas ações. Houve uma iniciativa de última hora na fábrica da Matutano, à meia-noite, uma ação de contacto com trabalhadores da Lisnave, às 7h00, em dia de aniversário do partido, houve uma viagem de comboio com a comitiva de jornalistas para chamar à atenção das questões dos transportes públicos, houve um salto à Gulbenkian para espreitar a exposição de Maria Lamas.
Uma forma revigorada de fazer campanha, mas sem se desligar do passado. No comício do 103.º aniversário do partido, Raimundo reiterava a “confiança inabalável nos trabalhadores”, lembrando que “é dos trabalhadores que viemos e é com os trabalhadores que vamos continuar”.
Por estarmos em ano do 50.º aniversário do 25 de Abril, todas as ações de campanha terminavam ao som de “Grândola, Vila Morena”, que era cantada de forma sentida, uma e outra vez. A seguir à Grândola, o hino nacional.
Esta foi também a campanha em que o PCP chamou os seus antigos secretários-gerais para mostrarem que estão com o partido e com Raimundo.
Primeiro, foi uma aparição discreta de Carlos Carvalhas, na Casa do Alentejo. Depois, a entrada de Jerónimo de Sousa e, outra vez, Carlos Carvalhas, mas desta vez ambos na primeira fila, no Rossio, em Lisboa.
Jerónimo foi o orador especial do comício em dia de aniversário do partido e depois outra vez Carvalhas e Jerónimo a descer o Chiado, mesmo por trás de Paulo Raimundo. Mas não foram só os antigos secretários. Outros nomes, uns mais ou menos conhecidos do grande público, foram vindo a público expressar o seu apoio à CDU.
Arruadas e comícios bastante participados e sintonizados com a nova liderança, mesmo que alguns fossem admitindo que “isto está tremido”.
Na reta final, Paulo Raimundo dizia que “se houvesse mais duas semanas de campanha isto piava de outra maneira”. A fasquia lançada pelo próprio é recuperar os 12 deputados de 2019. A ver o que ditam os votos.