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Milhares de elementos da PSP e da GNR em protesto esta quinta-feira começaram a chegar à Assembleia da República, em Lisboa, por volta das 16h, numa manifestação convocada para pressionarem o novo Governo a cumprir as reivindicações da classe e as promessas feitas na anterior legislatura.
Sob o lema “tolerância zero”, a manifestação conjunta é organizada pela Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) e a Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR).
Com a concentração a arrancar, pouco depois das 16h, os organizadores pediram aos manifestantes que abrissem espaço em frente ao Parlamento para todos os que queriam participar. "Há milhares de pessoas na Rua de São Bento. Façam um esforço e coloquem-se do lado esquerdo", ouvia-se no megafone. "Os polícias nunca tiveram tanta razão para sair à rua como hoje", foi também gritado.
Se os problemas não forem resolvidos, prometeram os organizadores durante o protesto, apresentando o seu caderno de reivindicações, uma nova manifestação será convocada para dia 21 de janeiro.
Durante o protesto, André Ventura, deputado único do partido de extrema-direita Chega, reuniu-se aos manifestantes sob fortes aplausos. Depois de Ventura fazer declarações aos jornalistas, de t-shirt branca do "Movimento Zero" e acusando o Governo de não ouvir e não respeitar as forças de segurança, um grupo de manifestantes virou as costas ao Parlamento enquanto entoava o hino nacional.
Ainda durante a marcha do Marquês de Pombal até São Bento, sentados em cadeiras de plástico a ver passar os manifestantes na Rua Alexandre Herculano, cinco utentes da Casa das Hortências, um lar de idosos no centro de Lisboa, quiseram manifestar o seu apoio às forças de segurança em protesto.
Todos estão na casa dos 90 anos, têm cartazes nas mãos com agradecimentos aos polícias. "Temos tido sempre o apoio da polícia de proximidade ao longo destes anos todos, estão ali no lar constantemente", explica a diretora técnica do lar, Anabela Ribeiro, à Renascença. "Achamos que temos de os apoiar, eles merecem todo o nosso respeito."
Vários manifestantes não ficaram indiferentes: "Obrigado pelo apoio", responderam muitos dos agentes ao grupo de idosos.
Ainda no Marquês de Pombal, pelas 14h, centenas de agentes estavam já reunidos na praça. O número acabaria por subir aos milhares, com o protesto a seguir rumo à Assembleia da República. Ainda não há balanços oficiais sobre o número de elementos das forças de segurança que aderiram à manifestação.
Ao lado de um quiosque de informações no Parque Eduardo VII, elementos do chamado "Movimento Zero" vendiam t-shirts a um euro cada. Desde que a manifestação foi convocada que se têm gerado receios quanto ao movimento inorgânico, criado há cerca de seis meses dentro das forças policiais, ligado à extrema-direita e que tem marcado várias das ações de protesto das polícias contra o Governo de António Costa.
Apesar de o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, se ter reunido na quinta-feira passada com os sindicatos mais representativos da PSP e na segunda-feira com a APG/GNR, as estruturas decidiram manter o protesto para hoje, por considerarem que ainda não está definido um calendário para a resolução rápida das suas reivindicações, existindo apenas uma agenda de reuniões negociais.
Em comunicado, o gabinete do ministro informou que está em "preparação, em diálogo com os sindicatos e as associações profissionais, a nova Lei de Programação das Infraestruturas e Equipamentos para as Forças e Serviços de Segurança do MAI [Ministério da Administração Interna], para a período pós-2021, dando continuidade ao diploma que, desde 2017, permitiu instituir um novo modelo de gestão estrutural e plurianual de investimentos a realizar nas várias valências operacionais".
São Bento com segurança reforçada
Durante a manhã, começou a ser montada uma barreira de segurança junto à Assembleia da República, onde os polícias pretendem concentrar-se a partir das 16h.
Maria Alves sobe a calçada da Estrela e chega a arfar à porta do seu local de trabalho. Leva a mão ao bolso e pega na chave para entrar no edifício onde trabalha como mulher a dias. Apesar do esforço e do cansaço, difícil vai ser na hora de sair, por causa da manifestação.
"Como é que eu vou chegar a casa?", desabafa com a Renascença. "Não faço ideia, vamos ver, não sei como vai ser. Vou sair mais cedo e tentar ir por Campo de Ourique."
Já Zinha Silva, que passa todos os dias algumas horas nos transportes, admite que ficou surpreendida com o aparato desta manhã: barreiras metálicas imobilizadas com blocos de betão, muita polícia de serviço e muitos pinos cor de laranja a impedir a subida da Calçada da Estrela.
A funcionária de um colégio, situado numa perpendicular à calçada, regressa todos os dias a casa já de noite e hoje poderá ser pior.
Carlos Santos, que costuma fazer apenas trajetos a pé, diz que "se os fizesse de carro, hoje seria diferente". Esperam-se milhares de polícias e militares da GNR no protesto desta tarde e isso também preocupa António Antunes, que vive na zona e que nem queria acreditar no aparato desta manhã em torno do Parlamento.
"Como cidadão deste país estou revoltado com este aparato que está aqui em frente à Assembleia da República. Parece que o Governo ou os políticos deste país estão a receber marginais, delinquentes, gente perigosa."
Ex-combatente na Guerra Colonial, Carlos Santos está ao lado dos polícias. "As forças de ordem são a defesa de um país. Eu como cidadão tenho de ser defendido pela polícia e pela Guarda Republicana, não é pelos políticos."
[atualizado às 17h00]