Os acidentes rodoviários são a maior causa de morte de crianças em Portugal, representando 12% dos óbitos de crianças e jovens. A conclusão vem no relatório elaborado pela Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI), publicado nesta quinta-feira, dia em que a associação completa 30 anos de existência.
Segundo o documento, entre 1992 e 2020 (último ano de referência), morreram 6.500 crianças e jovens na sequência de um traumatismo e lesão não intencional ou acidente. Por género, 74% ocorreram com rapazes.
Por idades, os traumatismos e lesões não intencionais (acidentes) são uma das principais causas de morte das crianças e jovens em Portugal a partir do primeiro ano de vida, sendo a segunda entre os 5 e os 14 anos de idade e a primeira a partir dos 15 anos.
Afogamentos em segundo lugar
Os afogamentos continuam a ser a segunda causa de morte acidental, quando consideramos todas as crianças, embora nas mais novas estes sejam ultrapassados pela asfixia.
Na verdade, os números indicam que, no primeiro ano de vida, a primeira causa de morte é a asfixia. Já do primeiro ano aos quatro anos de idade, os afogamentos, a asfixia e os acidentes como peões são as primeiras causas de morte.
150 mil internamentos na sequência de acidente
Segundo o relatório da APSI, a “somar” a estas mortes, quase 150 mil crianças e jovens foram internados na sequência de um acidente, desde 2000 até 2021.
Em média, na última década, registaram-se 3393 internamentos por ano.
O relatório refere que a maior causa dos internamentos são as quedas (70%) e isso acontece em todas as idades. Dos zero aos quatro anos, a segunda maior causa são os corpos/objetos estranhos. Dos cinco aos 18 anos, a segunda maior causa são os acidentes de transporte.
A maior parte dos internados são rapazes (66%). Já nas intoxicações, a partir dos 10 anos, a maior parte são raparigas.
Há ainda a considerar aproximadamente 200 mil chamadas de emergência reencaminhadas para os Centros de Orientação de Doentes Urgentes do INEM devido a acidentes, entre 2013 e 2021.
Por ano morreram 66 crianças em acidentes
De acordo com dados disponibilizados pelo INE citados no relatório, na última década (2012-2020) morreram, em média, em Portugal, 66 crianças por ano, por acidente, desde o nascimento até aos 19 anos.
Neste período, as mortes por acidente, em Portugal, representaram em média 12,3% da totalidade das mortes na população até aos 19 anos e 68,8% das causas de morte externa (que também incluem os suicídios, homicídios, agressões, lesões autoinfligidas e outras lesões cuja intencionalidade é desconhecida).
Taxa de mortalidade por acidente é superior à média da UE
O relatório da APSI analisa ainda os dados disponibilizados pelo Global Burden Disease, que possibilitam a comparação com outros países e com a União Europeia.
Neste sentido, é referido que, se tomarmos como referência a Suécia, um país com uma população residente idêntica à de Portugal e com uma taxa de população jovem relativamente próxima, e a Holanda, o país com o melhor nível de segurança infantil de acordo com a European Child Safety Alliance, verificamos que, em 2019, a taxa de mortalidade por acidente rodoviário até aos 19 anos em Portugal é superior à da UE e de qualquer um dos países de referência.
Embora esta tenha reduzido de forma muito significativa nas últimas décadas em Portugal e mais do que nos dois países mencionados, em 2019, ainda é quase o dobro da taxa de mortalidade por acidente rodoviário da UE.
Contudo, a mortalidade de crianças e jovens por traumatismos e lesões não intencionais, aponta o documento da APSI, tem vindo a reduzir de forma consistente em Portugal nos últimos 30 anos, ainda que, com uma tendência de estabilização na última década.
O peso das mortes por acidente na mortalidade global de crianças e jovens também reduziu nestas três décadas, embora ainda represente 15,7% do total, se considerarmos o último ano para o qual existem dados disponíveis (2020).
APSI pede Estratégia Nacional
Perante estes números, a Associação para a Promoção Infantil pede que se defina uma "Estratégia integrada e interministerial" e se adote medidas nacionais, regionais e locais.
Lembrando que Portugal tinha um Programa Nacional de Prevenção de Acidentes, que terminou em 2020 e nunca foi retomado, a APSI considera crucial "uma abordagem global e sistémica da promoção da saúde e bem-estar das crianças e jovens" e aponta algumas medidas que considera prementes, como a criação de "condições de segurança e acessibilidade junto de estabelecimentos educativos, zonas residenciais, nas cidades, vilas e bairros", e a "obrigatoriedade de proteção de piscinas em casas particulares, condomínios, alojamentos locais e aldeamentos turísticos".