"Não tenham medo" e "mantenham a fé" perante as dificuldades da vida, pois só isso "garantirá a felicidade", foi o apelo que o arcebispo de Luanda deixou neste domingo em Fátima, na homilia da peregrinação do migrante e do refugiado.
“Quem não tem algum medo, quem não experimenta no seu coração dúvidas, preocupações, problemas que o fazem sofrer, dificuldades que parecem intransponíveis, mesmo para levar uma vida digna, doenças incuráveis?” questionou D. Filomeno Dias.
Para o arcebispo, “diante de uma vida caótica, diante do mar em tempestade que é a existência, é sempre possível enxergar, ver uma presença, ainda que ambígua, que pede para subir na nossa barca, no nosso único refúgio, construído de propósito para nos defendermos das intempéries”.
“Diante destas realidades”, prosseguiu o prelado, “vem a voz de Deus, quando vimos a Maria, que nos diz: ‘Não temais! O Senhor está convosco!’”.
A fé tem de ser exercida
Para D. Filomeno Dias, a fé não é do momento, mas algo que deve durar no tempo.
“A fé é qualquer coisa que é sustentada no tempo, que deve durar, uma espécie de espera, de capacidade de resistir diante das dificuldades”.
“O conhecimento da fé não é exato como o da ciência”, defendeu o prelado, mas “trata de realidades cuja importância é mais decisiva do que tudo o que podemos ver ou tocar” e “implica correr um risco”.
“A fé exige paciência, calma e serenidade” e “o apelo do evangelho é que a mantenhamos sempre em exercício, de contrário, atrofia-se como um músculo inutilizado, como uma faculdade não exercitada”.
Perante milhares de peregrinos, o arcebispo de Luanda admitiu que toda a mudança atrai preocupação, por isso pediu a todos os católicos que sigam o exemplo de Maria que “foi feliz porque acreditou”.
Nesta peregrinação do migrante e do refugiado, D. Filomeno Dias citou a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Migrações.
Considerando que as migrações são um fenómeno complexo, o Papa Francisco pediu para “acompanhar e gerir da melhor forma possível os seus fluxos (das migrações), construindo pontes e não muros, alargando os canais para uma migração segura e regular”, para que “toda a migração possa ser fruto duma escolha livre”. Todos são chamados a respeitar a "dignidade de cada migrante".
Na sua mensagem para o Dia das Migrações, que tem como tema: “Livre para escolher se migrar ou ficar”, o Papa Francisco defende que “onde quer que decidamos construir o nosso futuro – no país onde nascemos ou fora dele – o importante é que lá haja sempre uma comunidade pronta a acolher, proteger, promover e integrar a todos, sem distinção nem deixar ninguém de fora”.
Durante a Eucaristia, D. Filomeno Dias apelou pela "paz no mundo", lembrando as vítimas da guerra na Ucrânia, e rezou para que as nações e os seus dirigentes "evitem os nacionalismos indiferentes à sorte dos mais pobres".
A peregrinação que hoje termina é uma das maiores do ano à Cova da Iria e conta, tradicionalmente com emigrantes e imigrantes em Porugal. Este ano, está inserida na 51.ª Semana das Migrações, promovida pela Obra Católica Portuguesa para as Migrações, organismo da Comissão Episcopal da Pastoral Social e das Mobilidade Humana (CEPSMH).