Os preços na habitação têm aumentado bastante nos últimos anos, tanto na compra como arrendamento. Carlos Guimarães Pinto, um dos autores do livro “Trancas à Porta”, considera que têm sido lançados muitos mitos sobre as razões efetivas sobre esse aumento de preços.
“Infelizmente, a discussão pública sobre a questão da habitação tem sido muito focada em residentes não habituais ou na questão do alojamento local, ou até no peso que o turismo tem, neste aumento. Ora, aquilo que nós descobrimos no livro, é que os países em que os preços da habitação ou não cresceram ou cresceram menos em toda a Europa, são casos como Espanha, Itália, Grécia, Chipre. Precisamente países que estão expostos em todos estes motivos, mas apesar disso, ou os preços da habitação não cresceram ou cresceram muito menos do que em Portugal”, afirma à Renascença.
Carlos Guimarães Pinto diz que por detrás de uma fachada que se apresenta, há uma outra realidade que junta a subida das taxas de juro e a escassez de oferta.
“A começar, a questão do longo período de taxas de juro baixas que tivemos. Já no passado, basicamente todos os grandes crescimentos dos preços do imobiliário aconteceram após um período prolongado de taxas de juro baixas, com as implicações que isso teve para as famílias, tal como agora, com as taxas de juro a aumentar. Falamos também da baixa construção que ocorre em Portugal. Nestas décadas todas de democracia foram construídas cerca de 800 mil casas em cada 10 anos, em média. Já nos últimos dez anos, até 2021, segundo os dados dos Censos, foram construídas menos 700 mil casas, ou seja, apenas 100 mil casas”, aponta.
Como justificação, do ponto de vista de Carlos Guimarães Pinto “há narrativas que interessam a quem quer utilizar estes problemas para as mesmas causas de sempre, a quem quer atacar a propriedade privada, aumentar o poder do Estado, e a quem se quer desculpar por ter feito muito pouco nos últimos anos, para combater o nosso verdadeiro problema que é termos uma escassez brutal de construção”, defende.
Outros dos problemas apontados pelos autores deste livro são o edificado antigo, a falta de aproveitamento de imóveis devolutos do Estado, ou a morosidade nos licenciamentos.
Este livro chega às bancas quando o Governo acaba de lançar as primeiras medidas do pacote Mais Habitação. Carlos Guimarães Pinto, que é também deputado da Iniciativa Liberal, assume que gostaria que o Executivo pudesse dar atenção a este livro.
“Porque o programa é muito voltado para formas de restringir a procura, como impedir que as pessoas procurem habitação, seja para alojamento local, seja para seja para os residentes não habituais, seja para os vistos Gold, no entanto, há muito poucas medidas para aquilo que efetivamente resolveria a questão da habitação, e que seria criar condições para que se investisse mais na construção de casas”, refere.
O livro “Trancas à Porta” junta também os autores André Pinção Lucas, atual diretor executivo do Instituto Mais Liberdade, Juliano Ventura e Filipa Osório, também eles membros do mesmo instituto.
A apresentação está marcada para as 18h30 desta quinta-feira, no Auditório da Cantina Velha da Universidade de Lisboa, com apresentação do ex-ministro da Economia, Pedro Siza Vieira.