O impacto da guerra da Ucrânia no setor da agricultura está a preocupar os agricultores alentejanos, a braços com uma subida brutal dos custos de produção.
A inquietação é manifestada à Renascença pelo presidente da ACOS, a Associação de Agricultores do Sul, no arranque de mais uma edição da Ovibeja, a grande feira do Sul, interrompida durante a pandemia.
Muitos produtores já questionam se vale ou não a pena prosseguir com a atividade. São muitas incertezas para enfrentar, segundo Rui Garrido, que exemplifica com a campanha do milho que decorre por esta altura.
“Por exemplo, o fertilizante azotado, que se utiliza durante a campanha do milho, custava, o ano passado, na ordem dos 300 euros a tonelada. Neste momento, custa à volta de 1.050 euros”, refere.
“Isto leva”, lamenta, “a que os agricultores ponham algumas reticências em fazer agricultura, pois os fatores de produção não param de aumentar e vamos ver se conseguimos vender esses produtos de forma a compensar esses aumentos”.
A Ucrânia, refira-se, foi o principal fornecedor de milho a Portugal em 2021, sendo a origem de mais de um terço do milho importado, enquanto da Rússia as principais importações foram os óleos de petróleo ou de minerais betuminosos (exceto, óleos produtos), segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).
O ano passado, o milho importado da Ucrânia representou 34,7% das importações nacionais deste produto. Aliás, ainda segundo o INE, entre 2017 e 2021, a Ucrânia foi sempre o principal fornecedor de milho, representando, em média, 34,4% das importações nacionais deste produto.
Devido sobretudo ao milho, das importações da Ucrânia, os produtos agrícolas foram o grupo mais representativo (peso médio de 73,5% face ao total). A seguir ao milho, o segundo produto com maior relevância no conjunto dos produtos agrícolas importados da Ucrânia foi o óleo de girassol em bruto, representando a Ucrânia 51,4% das importações portuguesas deste produto.
É num quadro enevoado que arranca, na capital do baixo Alentejo, a edição 38 da Ovibeja. No centro das preocupações está também a seca em Portugal. O presidente da ACOS reconhece que as chuvas de março melhoraram o panorama, contudo, há prejuízos registados que já não é possível recuperar.
“Há prejuízos que já estavam consumados e não se conseguem evitar. Pastagens e forragens vão ter muito menos produção, por exemplo. Ora, somando estes prejuízos a este aumento brutal dos custos de produção, faz um filme quase de terror”, afiança o presidente da ACOS.
Para aliviar este embate na agricultura e na produção, o Governo anunciou ajudas ao setor, nomeadamente, um subsídio de até 20% dos custos da eletricidade, a redução do ISP em 0,34 euros por litro de gasóleo agrícola e a isenção do IVA nas rações e fertilizantes.
“Essa ajuda que se fala, do IVA, para quem tem contabilidade organizada, não vai beneficiar praticamente nada com isto. É só momentaneamente, uma questão de caixa, digamos assim”, indica nestas declarações à Renascença.
Ainda assim, considera que todas as ajudas são sempre bem-vindas, como “as ajudas comunitárias”, mas afirma que ficam “aquém do que é considerado necessário”.
A grande feira do Sul inaugura no mesmo dia em que o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, fala ao Parlamento português. Por essa razão, e depois de ter confirmado presença na abertura do certame, o Presidente da República, não pode estar presente. Marcelo Rebelo de Sousa visita a Ovibeja, no domingo, dia 24.
Assim, a abertura da feira vai ser presidida, às 15h00, pela ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes. Uma oportunidade que não vai ser desperdiçada pelos agricultores.
“A senhora ministra foi reconduzida no cargo e vai ter que dialogar com a lavoura, com os agricultores, e só dialogando é que conseguiremos fazer face às adversidades deste momento”, afirma, Rui Garrido.Paulo Portas em Ovibeja solidária com a Ucrânia
“Como Alimentar o Planeta?” é o tema principal da Ovibeja e, entre muitas iniciativas agendadas, este é também o foco da conferência de dia 23 de abril, às 10h30, no Auditório ACOS, Pavilhão Terra Fértil.
Vão ser oradores, Maria Helena Semedo, secretária adjunta da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação), António Serrano, ex-ministro da Agricultura e professor catedrático, Paulo Portas, ex-vice-primeiro-ministro e professor universitário e ainda Pedro Fevereiro, diretor do Laboratório Colaborativo InnovPlantProtect.
Com os espaços lotados no que diz respeito a expositores e com as maiores expectativas em relação a visitantes, a 38.ª Ovibeja assume contornos mais relevantes e mais sensíveis devido à guerra encetada pela Rússia.
Solidária com a Ucrânia, a comissão organizadora decidiu disponibilizar 1% da receita total das bilheteiras a favor deste país, através da Embaixada da Ucrânia em Portugal.
Com oito pavilhões cobertos e muitos outros espaços exteriores distribuídos por cerca de dez hectares do Parque de Feiras e Exposições Manuel de Castro e Brito, esta edição da feira conta com muitos atrativos para todos os públicos, entre 21 e 25 de abril.
Além de produtos e serviços das mais diversas entidades de todos os setores de atividade, onde se inclui grande oferta de produtos agroalimentares para venda e consumo na feira, a Ovibeja conta também com vários espaços temáticos.
Desde uma exposição interativa sobre o tema central da feira, até à arena do azeite, pavilhão da pecuária, pavilhão do cante, campo da feira, pavilhão central onde, além dos expositores, se situam diversas oficinas temáticas dirigidas a crianças, jovens e suas famílias.
É também muito variada a oferta de atividades culturais e recreativas, com animação de rua, atuação de grupos corais em vários espaços, e que têm como momento alto o dia 23, através da iniciativa “Comboio do Cante” onde vão estar mais de 500 cantadores da zona da grande Lisboa.
O momento alto das noites acontece com os concertos que levam a Beja, nomes grandes da música. A Banda da Força Aérea e Tunas atua na primeira noite; Blaya a 22 de abril; Pedro Abrunhosa no sábado, dia 23, e Paula Fernandes no domingo, dia 24. Os DJs dão brilho às noites até madrugada fora.