Há procura por Portugal que não é respondida por falta de ligações aéreas, em particular para o aeroporto de Lisboa. “Parece evidente” que Portugal perde turistas pela sobrelotação do aeroporto Humberto Delgado, diz Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo (APAVT).
"A partir do momento em que nós temos um funil de entrada que está a ficar cada vez mais apertado" a capacidade de crescimento fica comprometida, salienta, em entrevista à Renascença.
Pedro Costa Ferreira assume que a saturação do aeroporto de Lisboa tem "um impacto enorme" no turismo e, por isso, "o Montijo já deveria estar em funcionamento".
Com o novo aeroporto operacional, na melhor das hipóteses, daqui a quatro anos, as agências de viagens mostram-se preocupadas, não só porque "a maioria dos turistas estrangeiros entram em Portugal pelos aeroportos, sobretudo por Lisboa", mas também porque condiciona as operações dos portugueses. "Fica mais difícil aos nossos operadores turísticos arranjarem 'slots' no verão", constata o presidente da APAVT. Só no ano passado, diz, foram recusados milhares de 'slots' (atribuição de faixas horárias nos aeroportos) "e continam a ser este ano".
Mas não é só Lisboa que preocupa as agências de viagens. “O Funchal está com enormes problemas de inoperacionalidade por causa dos ventos”, salienta, lembrando que em 2018 o aeroporto Cristiano Ronaldo esteve sem operações mais de 80 dias.
"Pode provocar o afastamento das companhias aéreas 'charter' e até de voos regulares do destino, que pode ser carimbado como não credível do ponto de vista da operação", alerta Pedro Costa Ferreira.
São problemas que podem travar o crescimento do turismo em Portugal, avisa a APAVT. As agências de viagens apontam ainda como prioridade o aumento da receita por turista. Mas, para isso, dizem, é necessário "ter mais território envolvido na cena turística e menos sazonalidade".
"Se tivermos mais território, temos mais estada média por turista e com os mesmos turistas conseguiremos fazer mais receita", afirma o presidente da APAVT.
Efeitos do Brexit? "Temos que cuidar do nosso país"
O maior impacto da saída do Reino Unido da União Europeia já terá ocorrido com a desvalorização da libra, acredita a Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo.
"A libra desvalorizou ao longo do ano passado cerca de 10% em relação ao euro, mas o mais importante é que valorizou cerca de 10% relativamente à lira turca", lembra, salientando que, do ponto de vista da competitividade relativa, "Portugal ficou menos competitivo".
Mais problemas, só se houver um Brexit sem acordo. "É evidente que há menos turistas ingleses, mas do ponto de vista da receita até temos tido aumentos", afirma Pedro Costa Ferreira.
"Mais importante do que andarmos a responder a um eventual Brexit com mais ou menos regra, temos que cuidar do nosso país enquanto destino turístico. É preferível centrarmo-nos nos nossos problemas, na nossa estratégia, do que, sempre que aparece uma borboleta nova, andarmos feitos tontos a tentar captá-la. Tratemos do nosso jardim, que as borboletas vêm ter até nós", remata.