O ex-ministro Miguel Poiares Maduro considera que o Governo é "um caso híbrido de populismo", lamentando que Portugal esteja entre os quatro países da Europa onde partidos populistas já chegaram ao poder.
"Hoje temos partidos populistas que estão no poder já, de direita, como na Polónia e na Hungria, mas partidos populistas de esquerda também no poder, na Grécia e, em Portugal, se quiserem chamemos-lhe um caso híbrido de populismo. Eu não gosto de ver Portugal incluído nestes quatro exemplos de discurso e prática populista dominante na Europa", afirmou o antigo ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional do Governo de coligação PSD/CDS-PP de Passos Coelho.
Falando perante os participantes da Universidade de Verão do PSD, que decorre até domingo em Castelo de Vide, Poiares Maduro deixou alertas sobre "o discurso político que em vez de soluções fala de bodes expiatórios".
"É um discurso político que é demagógico e improdutivo porque no final do caminho só oferece um bode expiatório. Esse discurso político está hoje dominante na coligação que governa o país e é um discurso político que tem como marca fundamental colocar a estratégia política à frente da realidade que o país vive", disse. É um discurso político em que, acrescentou, "a política se transforma em populismo".
"E o problema do populismo é que não oferece soluções, só oferece culpados", vincou, considerando que os populistas captam os medos e receios das pessoas e exacerbam-nos sem os solucionar.
O elogio da política "pouco sexy"
Admitindo que fazer política assente no realismo "pode parecer pouco sexy" politicamente, Poiares Maduro recusou que isso tenha que ver com o abandono dos ideais.
"A nossa acção política deve ser alimentada pelos nossos desejos, mas as alternativas e as propostas que propusermos têm de ser assentes no que podemos. É importante desejar, sonhar, é importante ter ideais, mas é importante perceber que tentar promover esses ideais fora da realidade só nos vai tornar ou demagogos ou, no pior dos casos, é aquilo que conduz ao autoritarismo, é aquilo que conduz à tirania", sustentou.
Na "aula", que tinha como tema o que é ser social-democrata, o antigo ministro falou ainda da "excessiva proximidade" entre poder político e poder económico e lembrou a intervenção do primeiro-ministro nas negociações entre os espanhóis do CaixaBank e a Santoro de Isabel dos Santos em torno do BPI.
Ressalvando que não considera que nesse caso tenha existido "algo mais oculto ou de finalidade perversa", Poiares Maduro sustentou que o problema é que no médio e longo prazo essa forma de intervenção gera "uma cultura de proximidade muito próxima da promiscuidade e uma dependência entre sistema político e económico que é muito mais prejudicial do que as vantagens imediatas".
"Foi essa cultura política que levou aos problemas que todos conhecemos, do BES, PT...", lembrou, argumentando que se um Governo num dia pede um favor, até com a melhor das intenções, a um accionista privado ou empresário, na semana seguinte esse empresário vai estar à porta do executivo a pedir um favor em troca.
As críticas do actual Governo sobre os atrasos na execução dos fundos comunitários mereceram também uma palavra de Poiares Maduro, que, assegurou, "não têm a mínima adesão com a realidade". Se existem atrasos, disse o ex-ministro, é porque as empresas decidiram não executar todos ou parte dos seus projectos ou porque há atrasos no pagamento das facturas pelas entidades que gerem os fundos.