Salvador Ramos fez 18 anos a 16 de maio. Em jeito de celebração, no dia seguinte, comprou uma arma automática AR15. Poucos dias depois, comprou outra. A 24 de maio, depois de "pistas" deixadas nas suas redes sociais, o jovem cometeu um tiroteio em Uvalde, no estado norte-americano do Texas, que relançou, de novo, o debate da posse de armas no país.
19 crianças e dois professores foram mortos e o próprio Salvador Ramos acabou por ser abatido, pela polícia. Antes desta terça-feira, ninguém previa que Salvador Ramos fosse capaz de cometer a tragédia.
O autor do tiroteio era vítima de bullying desde pequeno, ao longo do ensino primário e secundário, devido a problemas na fala, associadas à gaguez. Testemunhos ao The Washington Post dão ainda conta de que, após colocar uma fotografia nas redes sociais a usar lápis preto, sob os olhos, recebeu comentários homofóbicos por parte dos colegas.
Era um jovem "solitário" e com dificuldades em manter amizades. Stephen Garcia, da mesma idade, era uma das exceções. Ao The Washington Post, contava que Salvador era intimidado "nas redes sociais, em videojogos, em tudo", mas que tratava-se do "rapaz mais fixe, o rapaz mais tímido".
Stephen Garcia acabou por mudar-se para outra cidade, devido a motivos profissionais da mãe. O contacto com Salvador não voltou a ser o mesmo e o atirador "estava a ficar cada vez pior".
Já outro colega, desde a escola primária, contou, também ao The Washington Post, que o comportamento de Salvador Ramos começou a deteriorar e exemplificou com um episódio em que o jovem apareceu com vários cortes no rosto, autoinfligidos, "por diversão".
Se a vida escolar era longe de ser a ideal, a familiar não seria muito melhor. Salvador Ramos não se dava bem com a mãe, que era toxicodependente, e tinha várias discussões "violentas" e que envolviam "insultos". Um vizinho refere que, uma vez, a polícia teve de ser chamada à casa onde viviam progenitora e filho.
O jovem acabou por ir viver para casa da avó, que também era detentora dos terrenos onde vivia a mãe. Apesar de não haver, até ao momento, testemunhos que apontem para uma má relação, a verdade é que Salvador Ramos baleou a avó primeiro, antes de ter avançado como o tiroteio na escola. A mulher acabou por ficar gravemente ferida.