Os portugueses recorrem cada vez mais ao 112, mas, em muitos casos, tal não se justificaria. Na maior parte das vezes, é por falta de informação e desorientação face ao problema que tem em mãos, diz Teresa Brandão, médica responsável pela Delegação Regional do Sul do INEM.
“As pessoas não têm, às vezes, noção daquilo que é emergente ou não. Falta de informação. Depois, é mais fácil ligar para o 112 e ter uma ambulância, porque se ligarem para os bombeiros ou forem por outros meios, pensam que é mais difícil entrar numa urgência hospitalar. Se forem com uma ambulância do INEM pensam que passam à frente, o que não é verdade”, aponta a responsável na Renascença.
Além disso, acrescenta, “quando são transportadas pelo INEM, não pagam taxas moderadoras” e isso “pode ser [um fator] importante”.
Todos os dias, são feitas 20 a 25 mil chamadas para o 112 – dá uma média a rondar os mil telefonemas por hora para os centros operacionais a funcionar no continente e nas ilhas e onde é feita a triagem dos casos e o posterior encaminhamento para o devido serviço.
O problema é que muitas destas chamadas são falsas urgências, mas Teresa Brandão diz que o número está a diminuir.
“Não conseguimos muitas vezes identificar se a chamada é falsa ou não. Temos uma média de cerca de 5% que são falsas emergências e que são transferidas para o SNS 24; as outras são sempre meios que são enviados e desperdiçados às vezes, porque as pessoas já nem sequer se encontram no local”, refere.
Convidada do programa As Três da Manhã nesta terça-feira, a responsável do INEM sublinha a importância de as pessoas responderem “às perguntas que são feitas cada vez que há uma chamada para o CODU – o Centro de Orientação de Doentes Urgentes – através do 112 ou da Saúde 24”.
“Qualquer profissional faz perguntas que devem ser respondidas para saber se é necessário enviar meio ou não é preciso enviar meio e pode ser tratada pelo SNS 24”, afirma.
Mas como saber se o meu caso é suficientemente grave para ligar para o 112? “Na dúvida, ligue”, diz Teresa Brandão.
“A chamada vai para a polícia e posteriormente para o Centro de Orientação de Doentes, onde é atendido por um operador com formação específica”, explica. Nessa altura, é responder a todas as perguntas.
Paixão vs falta de meios
É por paixão que médicos e enfermeiros decidem trabalhar no Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), garante Teresa Brandão.
“O INEM é um local, uma instituição de paixão e as pessoas que estão lá, estão por paixão”, afirma, dando o seu exemplo: “sou médica de medicina geral e familiar e optei por estar a tempo inteiro no INEM há cerca de oito anos”.
É esta paixão que permite contornar os problemas resultantes da falta de meios. Por exemplo, a renovação tão necessária das ambulâncias, que está a ser feita “ao ritmo que é possível”.
“Neste momento, estão a ser renovadas – e foram já muitas, mais de 150 – ambulâncias dos nossos parceiros do Sistema Integrado de Emergência Médica (bombeiros e Cruz Vermelha) e, posteriormente, serão as nossas mesmas, do INEM, a ser renovadas, mas são ambulâncias com sete/oito anos com bastantes quilómetros”, avança a responsável pela delegação do Sul.
Quanto à impossibilidade de os helicópteros aterrarem nos hospitais durante a noite, a médica reconhece que “é uma preocupação acrescida” e adianta que, no que toca ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa, o assunto está a ser estudado.
Em alguns casos, sublinha Teresa Brandão, “pode ser a diferença entre a vida e a morte”. Para colmatar essa dificuldade, “quando é uma situação grave, é enviada alguma equipa mais diferenciada para acompanhar o doente, embora a equipa que esteja no helicóptero já seja diferenciada e possa acompanhar o doente, mas às vezes, se é mais do que um, pode ser necessário o envio de uma viatura médica ao local”.
INEM prepara-se para coronavírus
O processo tem vindo “a ser afinado”, mas está a decorrer. “Temos um circuito organizado, muito curto neste momento, porque não casos de coronavírus, só casos suspeitos”, diz a médica responsável do INEM.
Quando existe um caso suspeito, tem de ser validado e depois “vai uma equipa diferenciada do INEM fazer o transporte a uma unidade hospitalar de referência – que aqui [Lisboa] é o Hospital Curry Cabral”.
Os elementos desta equipa “têm equipamento próprio e formação específica” sobre este novo vírus.
Quanto a meios, “neste momento, já existem quatro ambulâncias – Lisboa, Porto, Coimbra e Faro – para poder fazer o transporte” e vão ser colocadas outras noutras zonas, adianta Teresa Brandão na Renascença.