O mundo vive há quase dois anos sob o espectro da morte, devido à Covid 19.
Governos, empresas, médicos, enfermeiros, cientistas, investigadores, cuidadores, instituições mobilizaram-se para este combate pela vida.
Sobretudo pela vida dos mais frágeis: seja pela idade, pelas doenças ou devido a débeis condições económicas que dificultam o acesso aos cuidados de saúde.
Ao longo deste tempo, vimos famílias destroçadas, mas sempre agarradas à vida - protegendo os mais fracos, vacinando-os e deles cuidando, no limite das suas forças e capacidades.
Em fim de ciclo, devido ao chumbo do orçamento do Estado, o parlamento português parece não aprender as lições da pandemia.
Em vez da vida há partidos obcecados em dar prioridade à morte. Procuram aprovar a eutanásia quando a dissolução do parlamento já foi pré-anunciada pelo próprio Presidente da República.
E pretendem fazê-lo, sem ao menos consultar os eleitores. Querem fechar o tema, desligando-o da próxima campanha eleitoral.
Nas eleições de 2019, nenhum partido defendeu a euntanásia. Mas uma vez eleitos, fizeram dela prioridade.
Agora, quando se aproxima nova ida às urnas, pretendem de novo evitar o debate e fechá-lo na decisão de um parlamento à beira da dissolução.
A vida é demasiado preciosa e dolorosamente frágil, para ser usada e manipulada ao sabor de meros calendários ideológicos e partidários.
O sofrimento de cada pessoa não cabe nas abstrações de uma lei.
A consciência última de cada um, não é determinável pelo ímpeto legislativo de quem pretende decidir sem ouvir. Sem ouvir o povo e sem ouvir instituições e peritos que lidam diariamente com a vida e a morte.
Tais peritos sabem que as teorias legislativas não conseguem abarcar a experiência humana de quem se confronta com a doença.
Quem lida de perto com os doentes conhece o carrossel permanente dos sobressaltos, dúvidas e angústias - ao longo de anos, meses, semanas e mesmo durante um único dia.
Uma lei da eutanásia fragiliza quem já era frágil. Atrai para a morte quem ainda pode viver. Obriga médicos e enfermeiros a contrariar a sua vocação e o seu compromisso, profissional e humano.
Talvez reduza a despesa do Estado, mas agrava irremediavelmente a vida de pessoas, que são - cada uma delas - únicas, insubstituíveis e por isso valiosas.
Qualquer parlamento pode ser dissolvido. Mas vida nenhuma pode ser descartada.