Ficou surpreendido com o convite de Luís Montenegro para a vice-presidência do PSD?
Sim, fiquei surpreendido quando Luís Montenegro me ligou a fazer o convite. Conversámos durante algum tempo e pareceu-me que era minha obrigação pôr de lado alguma autoestima e colocar a minha visão, o meu pensamento, a minha experiência ao serviço do partido numa altura que é essencial porque Portugal atravessa uma crise grave.
Qual deve ser, na sua opinião, a prioridade da nova direção do partido?
Eu posso ser útil para fazermos o relançamento do partido. Considero essencial o PSD fazer uma oposição forte, e, em muitos casos, dura para servir o interesse nacional. Uma oposição exigente obriga o governo a governar melhor. Se a oposição for frágil, se estiver sempre à procura de consensos, o que vai acontecer é que o governo é laxista e deixa de ter brio na sua atuação.
Mas vai ficar apenas pela oposição ao Governo de António Costa?
Isso é imperativo, mas ao mesmo tempo temos de construir um programa alternativo porque fazer oposição não é um exercício de “bota abaixo”. Por isso, o PSD tem de ter para cada área, um conjunto de medidas, um programa, uma linha de ação.
Numa altura em que o PSD tem mais dois partidos à sua direita no parlamento?
O partido está numa situação de equilíbrio, no espectro de forças políticas, diferente porque tem à sua direita, o Chega e a Iniciativa Liberal (IL) que são dois novos partidos que colocam novos problemas. Isso vai obrigar a que o partido seja muito presente e ativo a lidar com esses novos fenómenos. Há aqui um conjunto de desafios que me levaram a aceitar este convite de Luís Montenegro.
Nos nomes escolhidos por Luís Montenegro para os órgãos nacionais do partido, encontramos militantes que já estiveram com quase todos os líderes, desde Cavaco Silva. E também antigos candidatos à liderança como é o seu caso. Luís Montenegro conseguiu assim unir todas as tendências no PSD?
Acho que a lista que fez para a comissão política nacional, mas também para o conselho nacional [Carlos Moedas é o primeiro nome], provou que é capaz de fazer essa congregação. É como os melões, só quando abrimos é que sabemos se são bons, aqui abrimos a caixa e está lá a história e o ADN do partido. Estão personalidades com visões próprias. Não estão apenas “Yes Woman”, ou “Yes Man”, gente com pensamento próprio, com obra escrita, com currículo político. E está também gente muito nova. O PSD tem de conquistar os mais jovens e os mais velhos.
Montenegro chamou à direção do partido os “inimigos” que devem estar mais próximos?
Eu penso que não. Estamos a viver uma guerra, com risco de crise de dívidas soberanas. Todo o contexto externo agrava as dificuldades internas em Portugal. Considero que toda a mobilização é pouca para os desafios que o PSD tem. No meu caso, estou por um sentido de dever. Estamos numa chamada que é um toque a reunir.
Diz que aceitou o desafio porque o país vive uma crise muito grave. Quais são os principais problemas?
Primeiro, temos um governo com maioria absoluta e com três meses de vida que mostra um desgaste sem paralelo. A situação da saúde é a mais grave, é estrutural. Este fim de semana está dominado por uma série de encerramentos de urgências e não só pediátricas. A questão de inflação e do aumento do custo de vida não encontra resposta por parte do governo.
E no meio deste cenário que fala, a polémica com o novo aeroporto de Lisboa?
Esse caso é uma crise institucional grave. É o que eu chamo um desvario institucional. O ministro vem desafiar o primeiro-ministro, que já tinha dito que queria falar com o líder do PSD, e depois dois dias antes deste congresso, o ministro das infraestruturas publica um despacho. No dia seguinte o primeiro-ministro numa espécie de reality show "Perdoa-me” deixa passar como se nada fosse. Neste momento, o responsável pelo aeroporto é o primeiro-ministro, foi isso, aliás, que disse o Presidente da República.
E o Presidente da República não podia ter ido mais longe?
Eu acho que o Presidente podia ter ido mais longe, não digo o contrário. Em todo o caso, acho que ele foi muito claro, mas o grande embaraço para o primeiro-ministro. O que mostra é uma grande desorientação do governo.