Imagine gerir, em pandemia, 1.500 alunos do 7.º ao 12.º ano. Foi este o desafio que teve de enfrentar o diretor da Escola Secundária Almeida Garrett, no centro de Gaia, onde trabalham também 119 professores e 36 assistentes.
Dada a ordem de encerramento das escolas, o antigo Liceu de Gaia garantiu a distribuição de computadores a 55 alunos. Mas nem assim fechou portas. Paulo Mota, diretor deste estabelecimento de ensino, explica que houve quem continuasse a ir todos os dias.
“Por algum motivo a internet ou outra coisa não funcionava nas residências e nós tivemos aqui meia dúzia de alunos diariamente durante o confinamento que vinham ter aulas online, cada um na sua sala, estiveram aqui com os nossos equipamentos e não foram privados de nada”, descreve o diretor.
E também houve quem viesse buscar refeições que, em muitos casos, não eram apenas para o aluno.
“Às vezes até pedíamos para reforçar, porque sabíamos que aquela refeição não ia ser exclusivamente para uma pessoa, sabíamos que havia casos em que era preciso para mais do que uma pessoa para dar resposta aquilo que era a falta de emprego e a falta de condições”, explica Paulo Mota.
Este regime de refeições escolares em take away só esteve disponível para os beneficiários da Ação Social Escolar, sendo que, pelos caminhos da pandemia, foram detetadas outras situações de fragilidade.
“Tivemos identificação de famílias perfeitamente normais que acabaram por entrar em fenómenos de privação e de necessidade, sendo que é sempre muito difícil nestas condições as pessoas assumirem essa necessidade. Diziam que estava tudo bem, mas nós sabíamos através dos miúdos que as coisas não estavam assim tão bem”, conta o diretor.
Mas se há escola que sabe lidar com situações assim é esta que tem por lema “Aprender a Ser” e onde ensinam aos miúdos “a ser solidários e voluntários ao longo da vida”. Nesse âmbito, têm um projeto chamado “Garrett Solidário e Voluntário” e foi através de projeto que se puseram em campo, juntamente com os serviços de psicologia e uma assistente social, no sentido de perceber quais as necessidades do ensino à distância, não só em matérias de equipamentos, mas também outro tipo de apoio familiar e refeições.
“Vestimos e alimentamos algumas famílias”, assegura.
Quanto ao ensino remoto, fez-se, mas sem grande proveito, diz Paulo Mota. “No geral não houve abandono escolar, mas houve alunos a quem tínhamos que ligar com frequência”, explica.
Com a reabertura das escolas, o ensino presencial com tantas regras também foi muito difícil, descreve o diretor que identifica a falta de recreio livre como um dos principais problemas.
“[A pandemia] tirou a oportunidade dos miúdos nos intervalos poderem socializar e poderem correr, jogar à bola”, explica Paulo Mota que também parece não ter dúvidas que “grande parte daquilo que era alguma exaustão que as atividades letivas provocavam nos alunos era a falta de oportunidade de espaço para o recreio. O recreio não existiu”, remata.
Um cansaço que atingiu alunos e professores. “Tive oito professores que entraram em burnout e muitos com baixas temporárias”, conta Paulo Mota.
Com o novo ano letivo à porta, Paulo Mota receia que muitas restrições se mantenham, cenário que vê com alguma preocupação. Por outro lado, deseja que tenha vindo para ficar um espírito de colaboração diferente.
“Mesmo a nível de trabalho entre os professores, esta pandemia trouxe a necessidade de colaborar mais, de sentir que precisava de ferramentas que o outro tinha e eu não tinha”, remata.
Respostas Sociais à Pandemia é uma rubrica da Renascença com apoio da Câmara Municipal de Gaia que surge no seguimento da Conferência "Pandemia: Respostas à Crise" onde se debateu em maio de 2021 o papel das Instituições Sociais e do Poder Local.