Salvador e Carvalhal conviviam em "paz podre" no Braga
17-05-2022 - 13:30
 • Renascença

António Duarte, antigo dirigente do Braga, confessa desilusão pela saída do treinador, responsabiliza o presidente e espera que o próximo técnico mantenha a aposta na formação.

A “paz podre” que estava instalada nas paredes cinzentas da Pedreira teve como desfecho inevitável a recusa de Carlos Carvalhal em prolongar o vínculo ao Sporting de Braga. É a leitura que António Duarte, antigo dirigente do clube, faz da saída do treinador, ao fim de dois anos.

Em entrevista a Bola Branca, António Duarte confessa "uma grande desilusão" pela saída do treinador e atribui responsabilidades ao presidente, António Salvador, que chegou a criticar Carvalhal em público.

“Esperava-se depois do jogo em Glasgow, contra o Rangers, onde houve aquele discurso final do presidente, que fez comentários desajustados em público. Não se justificava. Sabia-se que havia uma paz podre, sem as melhores condições, mas Carlos Carvalhal deu a volta por cima, agarrou o balneário e o Sporting de Braga continuou a praticar um bom futebol. Eu dizia que o futebol do Braga era o mais bem jogado no campeonato português e que o mais competitivo era o do Porto. Foi assim que ganhámos aos três grandes e fomos os únicos a fazê-lo, pela capacidade de Carlos Carvalhal”, considera o antigo dirigente minhoto.

Muito crítico relativamente à forma de Salvador gerir os destinos Braga, António Duarte ironiza com o processo de escolha do novo treinador:

“Se não houver nenhum patrão que mande ou vá decidir quem vem para o Braga, penso que haverá toda a responsabilidade de escolher alguém que vai pegar num plantel de qualidade, muito jovem, que aposte na formação, não tenha medo e saiba assumir essa responsabilidade.”

Os possíveis sucessores de Carlos Carvalhal


Na imprensa circulam nomes como os de Bruno Pinheiro (treinador do Estoril), Vasco Seabra (Marítimo) e Nelson Veríssimo, de saída do Benfica, como figurando na lista de possíveis treinadores para o Braga.

António Duarte considera que, no caso de Carlos Carvalhal, a tarefa foi dificultada pela decisão de Salvador de vender Galeno a meio da época. O antigo dirigente do Sporting de Braga não arrisca um nome.

“É muito difícil neste contexto. Que venha alguém que aposte nos jogadores jovens. Naturalmente que terão de vir dois ou três [jogadores] com mais experiência. Não tivemos capacidade de organização de vendas. O Galeno, melhor marcador da Liga Europa, acabou por sair para o FC Porto naquelas condições [em janeiro] e o Carlos Carvalhal teve a sua vida muito dificultada. Tivemos a ilusão de estar na final da Liga Europa, mas tal não aconteceu porque não houve consistência de alguém que tem a responsabilidade da liderança do SC Braga e deveria ter oferecido essa qualidade e essas condições”, sublinha.

Apesar do tom veemente das críticas à gestão do atual presidente do Braga, o antigo dirigente confia que o próximo treinador não irá esbanjar a herança que Carlos Carvalhal deixa ao nível da aposta na formação.

“Naturalmente que a vida vai seguir. O futebol, por vezes, é cruel e, muitas vezes, premeia quem não tem qualidade e capacidade de gestão. Eu costumo dizer que o Sporting Clube de Braga tem uma gestão doentia e infelizmente está a confirmar-se essa situação”, declara.

Qualidade técnica e humana do treinador e do ajunto


António Duarte remata esta entrevista à Renascença com elogios a João Mário, adjunto principal, e a Carvalhal, de quem foi dirigente no Braga.

“Para mim é, na atualidade, o melhor técnico português. Tive o privilégio de ser seu dirigente. Conheci Carlos Carvalhal no balneário, aliás, como o próprio João Mário, outro grande treinador que faz dupla com Carvalhal. Aproveito para lhes desejar o maior sucesso do mundo e as melhores felicidades, porque merecem. São dois grandes treinadores, mas, acima de tudo, destaco a sua qualidade humana invejável, no trato, na nobreza e no que oferecem ao futebol português”, destaca o ex-dirigente.