No segundo dia da visita à Hungria, o Papa Francisco pediu aos jovens que invistam “nos grandes objetivos da vida”. “Como se faz para vencer?”, questionou Bergoglio, no encontro que decorreu na tarde deste sábado, no Palácio desportivo Papp László, em Budapeste.
Fazendo uma comparação com o mundo desportivo, Francisco pediu à juventude que “ponha em campo” aquilo que tem. “Possuis uma qualidade boa? Investe nela, sem medo”, disse. “Não a ponhas de lado, pensando que, para ser feliz, basta o mínimo indispensável: um diploma, um emprego para ganhar dinheiro, divertir-se um pouco... Não basta!”, afirmou de forma perentória. E acrescentou: “Em diálogo com Jesus, que é o melhor treinador possível: ouve-te, motiva-te, acredita em ti, sabe como tirar o melhor de ti. E convida-nos sempre a fazer equipa: nunca sozinhos, mas com os outros; na Igreja, na comunidade, juntos, vivendo experiências comuns”, sublinhou, deixando um convite a que todos participem na próxima Jornada Mundial da Juventude, que se realiza este verão, em Lisboa.
“Hoje a grande tentação é contentar-se com um telemóvel e qualquer amigo. Embora seja isto o que muitos fazem e ainda que seja também o que te apetece fazer, isso não te fará feliz”, afirmou, garantindo aos jovens que “Jesus não derruba os seus sonhos, mas corrige-os quanto ao modo de os realizar”.
“[Ele]insiste numa coisa, que devem ter bem em mente: uma pessoa não se torna grande passando por cima dos outros, mas abaixando-se para os outros”, referiu. “Jesus fica feliz, se alcançarmos metas altas. Não nos quer preguiçosos e inativos, não nos quer calados e tímidos; quer-nos vivos, ativos, protagonistas.”
Viver num mundo acelerado
O encontro, que se realizou no maior recinto desportivo coberto da cidade de Budapeste, com capacidade para 12 500 pessoas, começou com o testemunho de quatro jovens. Krisztina Nagy, estudante universitária de 20 anos, partilhou a dificuldade de viver num mundo acelerado. “Estamos em busca de nós mesmos e não nos permitimos tempo de silêncio no meio do barulho, pois temos medo da solidão e a cada dia acabamos cansados dela”, disse a húngara.
Uma partilha que levou o Papa a pedir aos presentes que não tenham medo de ir contracorrente. “Hoje tudo vos diz que é preciso ser rápido, eficiente, praticamente perfeito, como máquinas. Mas depois damo-nos conta de que, muitas vezes, ficamos sem gasolina e não sabemos o que fazer. É bom saber parar para abastecer, para recarregar as baterias”, frisou, deixando um alerta: “Não é para mergulhar nas próprias melancolias ou ruminar as próprias tristezas”.
Em vez disso, o Papa Francisco falava sim de um silêncio que “é o terreno onde se pode cultivar relações benéficas, porque nos permite confiar a Jesus aquilo que vivemos”.
“Deixemo-nos desinquietar”
A propósito da história de Bertalan Krabót, um estudante de liceu, de 15 anos, que partilhou o quão afastado esteve da Igreja e contou a dificuldade que sente para gerir a ansiedade, Francisco frisou a beleza de se “ter a coragem de ser verdadeiro”. “Não significa mostrar que nunca se tem medo, mas abrir-se e partilhar as próprias fragilidades com o Senhor e com os outros, sem esconder, nem disfarçar, nem usar máscaras.” “Quem se apoia nas próprias capacidades e vive de aparências para ser bem visto, mantém Deus longe do coração.”
No encontro, o Papa ouviu ainda os testemunhos de Dóra Csóka, de 17 anos, que cresceu longe da religião e contou como se aproximou da Igreja, e de Tódor Levcsenkó, da mesma idade, que falou sobre a necessidade que sente de partilhar a fé nos ambientes em que está inserido. Sobre este tema, Francisco chamou a atenção para as ocasiões em que “o zelo pela missão é anestesiado pelo nosso viver em segurança e conforto, enquanto a poucos quilómetros, na ordem do dia, temos a guerra e o sofrimento”.
“Deixemo-nos desinquietar. Cada um de nós interrogue-se: Que faço pelos outros, pela Igreja, pela sociedade? Vivo a pensar só no meu bem ou arrisco pelos outros, sem me cingir aos meus interesses?”, interpelou.
A importância das perguntas
No discurso aos jovens, Francisco sublinhou também a importância de colocar questões. “Importante é haver alguém que provoque e ouça as vossas perguntas e não dê respostas fáceis e pré-fabricadas, mas vos ajude a enfrentar sem medo a aventura da vida à procura de respostas grandes”, afirmou, lembrando que “era assim que Jesus fazia”. “[Ele] não quer que os seus discípulos sejam alunos que repetem uma lição, mas jovens livres e a caminho, companheiros de estrada dum Deus que escuta as suas necessidades e está atento aos seus sonhos”.
Ainda no início do encontro, o Papa recebeu várias ofertas de produtos tradicionais do país, nomeadamente um cubo de Rubik e uma garrafa de vinho doce Tokay, momento que mereceu fortes aplausos das bancadas da arena de desportos.
No final do segundo dia da visita à Hungria, o Papa Francisco vai ainda encontrar-se com membros da Companhia de Jesus, na Nunciatura Apostólica.