O Papa Francisco exorta a “Comunidade das Nações a trabalhar unida para adotar um tratado internacional vinculativo, que regule o desenvolvimento e o uso da inteligência artificial nas suas variadas formas”.
O apelo consta da mensagem de Francisco para o Dia das Comunicações Sociais, divulgada esta quarta-feira, em que a Igreja assinala a memória de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas.
O Papa aplaude os avanços e os ganhos que a inteligência artificial vem proporcionando, mas alerta também para alguns riscos e perigos, pedindo que “o homem não se torne alimento para algoritmos” e afirmando que “a comunicação deve permanecer plenamente humana”.
“Não é aceitável que a utilização da inteligência artificial conduza a um pensamento anónimo, a uma montagem de dados certificados, a uma desresponsabilização editorial coletiva”, afirma.
Francisco lembra que “a inteligência artificial poderá proporcionar um contributo positivo no âmbito da comunicação, se não anular o papel do jornalismo no local, antes pelo contrário se o apoiar; se valorizar o profissionalismo da comunicação, responsabilizando cada comunicador; se devolver a cada ser humano o papel de sujeito, com capacidade crítica, da própria comunicação”.
O Papa alerta para a necessidade de se “regulamentar instrumentos” que podem causar “cenários negativos”, quando utilizados por mãos erradas, e defende que apenas com a “sabedoria do coração poderemos ler e interpretar a novidade do nosso tempo”.
Francisco afirma que “a sabedoria do coração é a virtude que nos permite combinar o todo com as partes”, e adianta que “não podemos esperar esta sabedoria das máquinas”.
Na mensagem, Francisco não esquece o problema da desinformação, em particular o caso “das fake news” e que atualmente se serve da “deep fake”, isto é, da criação e divulgação de imagens que parecem perfeitamente plausíveis, mas são falsas”. “Já me aconteceu a mim também ser objeto delas”, revela.
“É necessário prevenir propondo modelos de regulamentação ética para contornar os efeitos danosos, discriminatórios e socialmente injustos dos sistemas de inteligência artificial”, insiste.
O Papa escreve na sua mensagem que “cabe a cada um questionar-se sobre o progresso teórico e a utilização prática destes novos instrumentos de comunicação e conhecimento” e chama a atenção para o risco de que “tudo se transforme em cálculos abstratos que reduzem as pessoas a dados (…) que podem acabar por negar a singularidade de cada pessoa, dissolvendo a realidade numa série de dados estatísticos”.
“Compete ao homem decidir se há de tornar-se alimento para os algoritmos ou nutrir o seu coração de liberdade, sem a qual não se cresce na sabedoria. Esta sabedoria amadurece valorizando o tempo e abraçando as vulnerabilidades. Cresce na aliança entre as gerações, entre quem tem memória do passado e quem tem visão de futuro", conclui Francisco.