Com uma hora de atraso e apanhado por uma chuva torrencial, André Ventura chegou a Leiria esta quarta-feira para inaugurar mais uma sede do partido e acenar à janela às cerca de cinquenta pessoas que ficaram a interromper o trânsito na Avenida Cidade de Maringá, ali muito perto do estádio de futebol.
Passada meia hora o candidato presidencial estava em cima do palco móvel a discursar, a meter no mesmo saco de críticas o presidente-recandidato Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro António Costa e Ana Gomes, tudo misturado com o barulho de uns vinte manifestantes do outro lado da estrada a gritarem "fascista" sob o olhar da Polícia de Segurança Pública e da própria segurança pessoal do candidato.
Arrumado o comício em Leiria, ala para a Batalha, rumo ao Mosteiro, com o candidato presidencial a bater com o nariz na porta e a não poder fazer a anunciada visita ao túmulo do soldado Desconhecido. Não há túmulo, faz-se uma homenagem em frente à estátua equestre de Dom Nuno Álvares Pereira seguida de uma conferência de imprensa ao ar livre.
É aí que Ventura se diz convicto que irá ficar "em segundo lugar no dia 24", um segundo lugar que "permita uma segunda volta com a bitola de ficar à frente de toda a esquerda".
O candidato não desdenha as sondagens, não adopta a máxima típica dos últimos dias de campanha de que "a verdadeira sondagem é no domingo", não. Ventura gosta dos números que vão aparecendo, diz que ter "10% poderá ser bom, se todos os outros da esquerda tiverem menos", mas, " em todo o caso", diz-se "convencido" que vai "ter muito mais".
Em Leiria quando se preparava para discursar foi apresentado como "o próximo Presidente da República" e, questionado sobre se não é irrealista a ambição da segunda volta nas presidenciais, responde que "possível é sempre", lembrando que "a única vez que a tivemos em Portugal foi em 1986", entre Freitas do Amaral e Mário Soares "e foi numa eleição à primeira e não numa reeleição, mas tudo é possível".
O céu parece ser o limite, mas um segundo lugar com direito a uma segunda volta "é muito difícil face a um Presidente da República como Marcelo Rebelo de Sousa", assume o candidato.
Ventura diz que até considera que "seria completamente desonesto intelectualmente" dizer "que é fácil e que vai acontecer", pedindo ao eleitorado que saia "de casa para ir votar mesmo que as condições sejam adversas". Como esta quarta-feira em que a caravana esteve debaixo de chuva intensa.
O candidato presidencial revela-se também analista político e vai revelando a estratégia até domingo. Considera que a candidata socialista Ana Gomes "representa o modelo de esquerda em Portugal" e tem servido bem a Ventura para definir uma campanha "muito polarizadora", com "clivagem ideológica", permitindo mostrar "dois modelos ideológicos muito claros".
É assumido que esta candidatura é para fraccionar, dividir pólos e "quando é assim as pessoas estão mais motivadas para votar", com Ventura a meter a cassete de que se Ana Gomes "ficar à frente haverá consequências", sinónimo de demissão da liderança do Chega e consequente recandidatura ao mesmo lugar.
Portanto, segunda volta "possível", mas e a abstenção, favorece ou não a candidatura presidencial do líder do Chega. Ventura acha que não e admite que "a abstenção não seja menor do que nas últimas eleições".
O candidato considera mesmo que "as pessoas estão mais motivadas pela clivagem" com Ana Gomes e espera, por isso, "uma abstenção que não seja de 70%" . Acredita que conseguiu "mobilizar as pessoas nesse sentido".
Nas contas de Ventura, se o país for às urnas e houver "uma abstenção na ordem dos 50 ou 60 neste contexto" de pandemia, "já se conseguiu alguma coisa”. E acrescenta: "Se só forem votar 30% das pessoas não há candidato nenhum que diga que venceu, porque é uma derrota para todos".
Agora, a preocupação da candidatura é com a organização do dia das eleições presidenciais, com Ventura a atirar que, depois do que se viu com o voto antecipado dos eleitores em mobilidade, "a afluência vai ser acima das expectativas porque as pessoas estao motivadas para votar".
Fica o desafio do candidato à "saúde pública e também aos políticos de não pôr pessoas à espera horas e horas, porque senão o risco é de as pessoas não irem votar", mas a convicção é que "haja uma afluência superior do que é expectável".
Antes de vestir este fato de analista, André Ventura foi confrontado pelos jornalistas com as acusações que fez ao Bloco de Esquerda de estar por trás das manifestações nas acções de campanha do Chega um pouco por todo o país.
O candidato desconfia que são "assessores" do Bloco que estão a organizar os protestos "que dizem que são espontâneos e que não são", acusando o partido que apoia a candidata presidencial Marisa Matias de lhe "boicotar" a campanha, prometendo "apresentar uma exposição à Comissão Nacional de Eleições".
A insistência dos jornalistas neste assunto levou mesmo o candidato a virar costas à conferência de imprensa ao ar livre para depois voltar atrás e continuar a responder a outras questões.
Depois disto, já noite, aconteceu ali ao lado o segundo comício do dia com poucos apoiantes, mas a fazerem-se ouvir, de tal maneira que o candidato lhes ia respondendo e agradecendo, mas ali estava algo perdido o gás que tinha mostrado em Leiria.
A meio da segunda semana de campanha eleitoral Ventura a mostrar-se algo cansado e visivelmente irritado com mais um manifestante que ali ao lado o chama de "fascista", atirando com a pergunta "aqui também?" e a rir-se, e em diálogo com os apoiantes, arrumou o assunto com um "acho que gostam de mim".