Metade das vagas abertas no concurso para médicos de Medicina Geral e Familiar ficaram por preencher na região de Lisboa e Vale do Tejo, segundo dados divulgados esta quinta-feira pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM).
Trata-se do concurso aberto a 17 de junho, com um total de 432 vagas para médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar, das quais 211 em Lisboa e Vale do Tejo.
“Para o total de 432 vagas houve 379 candidatos, ou seja, houve médicos de família candidatos para 87% das vagas. Contudo, no final do processo só 60% das vagas foram ocupadas, tendo havido dezenas de desistências”, salienta o sindicato.
Em Lisboa e Vale do Tejo, uma das zonas mais carenciadas destes especialistas, “a situação foi ainda mais crítica, com metade das vagas desertas”.
Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, afirmou que esta situação quer dizer “três coisas”: “Em primeiro lugar que, infelizmente, a tendência que se tem assistido nos últimos anos, se tem verificado e de alguma maneira agravado”.
“Em segundo lugar, quando a senhora ministra da Saúde, na altura em que pressionada pelos acontecimentos de encerramento dos serviços de urgência, anuncia a contratação de 1.800 médicos, o que o faz é anunciar que abre a possibilidade de 1.800 locais de trabalho serem ocupados, mas como a senhora ministra sabe melhor que todos nós, o resultado é este”, declarou.
Por último, apontou a saída dos médicos do SNS por reforma, que este ano serão 500 médicos hospitalares e cerca de 400 médicos de Medicina Geral de Familiar, e por rescisões, que em 2021 foram cerca de 500 em todas as especialidades e este ano “a tendência é muito semelhante”.
“Por mais que se demonstre que o número de médicos que entram são menos dos que saem, o Ministério da Saúde ainda não assumiu que é necessário alterar as condições de trabalho dos médicos no Serviço Nacional de Saúde”, salientou.
Para o dirigente sindical, é essencial que o ministério perceba que está a empurrar os médicos para serem tarefeiros ao oferecer um salário líquido mensal de 1.800 euros, quando muitos deles têm de se deslocar para outras zonas do país, com as despesas inerentes.
Como prestadores de serviços, o pagamento do valor que recebem à hora é “bastante mais atrativo e naturalmente as pessoas optam por essa maneira”.
Questionado sobre a majoração de 60% no vencimento dos jovens especialistas que se fixem em zonas com uma média de cobertura por médico de família inferior à nacional, à qual se junta o incentivo que já existia para estas zonas (1.111 euros) o que significa 100% sobre o vencimento dos médicos, Roque da Cunha disse que “O princípio é errado”.
“O princípio é errado e altamente perturbador, até porque junto dos médicos que há dezenas de anos asseguram o trabalho nesses locais terem ao lado colegas que durante três anos vão ganhar quase o dobro não é a solução como dissemos ao Ministério da Saúde”, comentou.
Segundo Roque da Cunha, “muitas dessas vagas não foram ocupadas porque as pessoas percebem que, para além do desconforto dessa situação, é por três anos”.
Esta situação vem confirmar “a necessidade imperiosa” do Ministério da Saúde, na negociação que iniciou na quarta-feira com os sindicatos, de “encarar o problema e de ouvir os sindicatos”, defendeu.