Abomino a repetição, confessa Salvador Sobral. O músico mais dado ao improviso, vê-se agora metido na linguagem mais espartilhada do teatro. Estreia-se esta sexta-feira em palco, no Centro Cultural de Belém na peça “Estradas”, para ver até sábado no âmbito do Festival Big Bang.
Em entrevista à Renascença, o músico explica que a ideia para a peça partiu da artista Jenna Thiam, sua namorada. Ela inspirou-se no filme de Federico Fellini ‘La Strada’ “que fala de três artistas de variedades que vão de vila em vila em Itália com um espetáculo um bocadinho circense”, diz o músico.
Salvador Sobral conta que a partir do filme começaram “a pensar numa peça que falasse dos artistas na estrada”. Habituado que está a tournées nacionais e internacionais dos seus concertos de música, o cantor explica, contudo, que fazer teatro para si representou outro tipo de desafios.
“O que foi difícil para mim, foi atuar e fazer teatro que era uma coisa que eu nunca tinha feito e tinha obviamente romantizado e idealizado a ideia de ser ator. Quando me apercebi o difícil que era, fiquei com mais medo. O teatro vive da repetição que é uma coisa que eu abomino na música! Gosto sempre de fazer os concertos diferentes, improvisar e ter a liberdade de respeitar o momento. E o teatro é precisamente a repetição”, admite Salvador Sobral.
Não foi só a repetição que foi difícil para Salvador Sobral, o músico admite que “também os horários” do teatro representaram outro desafio. “Eu acordo muito tarde e nós, durante as residências, estávamos a acordar todos os dias muito cedo. Ficávamos fechados numa sala sem janelas. Muito mais difícil do que idealizar uma peça para crianças, foi meter-me na pele de um ator de teatro”, confessa o músico.
Apresentada no âmbito do Festival Big Bang, organizado pela Fábrica das Artes do CCB em conjunto com a companhia belga Zonzo Compagnie, esta peça é composta por músicas originais. Salvador Sobral explica que a música foi escrita “durante a residência”, entre ele o Javier Galiana. “Fomos compondo canções do zero, pensando nos ambientes que queríamos ter”, conta Sobral.
Neste espetáculo pensado para os mais novos, “de repente há um chorinho, também há um blues”, explica Salvador Sobral, um dos três atores músicos que fazem esta peça que vai estar em cena dia 22 para escolas e dia 23 para o público em geral, com sessões às 12h 45 e 16 horas.