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O Papa Francisco diz que Espanha deve levar a cabo um processo de reconciliação histórica para evitar que as diferenças ideológicas mergulhem o país novamente na inimizade que, no século passado, culminou numa terrível guerra civil.
“Eu não sei se Espanha está totalmente reconciliada com a sua própria história, sobretudo a história do século passado. E, se não está, creio que tem de fazer uma reconciliação com a própria história, o que não quer dizer abdicar de posições próprias, mas sim entrar num proceso de diálogo e reconciliação.”
“Acima de tudo, deve-se evitar as ideologias, que são o que impede qualquer proceso de diálogo e reconciliação. As ideologias destroem. A unidade nacional é uma expressão fascinante, mas nunca será valorizada sem a reconciliação básica dos povos.”
“Creio que este, ou qualquer outro Governo, seja de que tendencia for, tem de se ocupar da reconciliação e ver como avançam como irmãos e não como inimigos, ou pelo menos não com esse inconsciente desonesto que me leva a julgar o outro como inimigo histórico”, sublinhou o Papa.
Catalunha tem de ser decidida pelos espanhóis
Nesta entrevista à rádio católica de Espanha, Cadena COPE, transmitida esta quarta-feira de manhã, Francisco diz que questões como a independência da Catalunha têm de ser decididas pelos espanhóis, mas que a criação de um novo estado na Europa não seria inédito.
“Veja-se o caso do Kosovo, e de toda essa zona que se está a reformular. São factos históricos marcados por uma série de particularidades. No caso de Espanha, são vocês, os espanhóis, que têm de decidir”, refere.
Mais do que com a unidade de Espanha, contudo, Francisco mostrou-se preocupado com o futuro do projeto europeu e revelou que esta tem sido uma das forças motrizes das suas viagens dentro do continente, onde privilegiou sobretudo as idas aos estados mais pequenos.
“Primeiro fui à Albânia, e depois a todos os países pequenos. Agora tenho planeado a Eslováquia, depois Chipre, Grécia e Malta. Quis tomar esta opção. Primeiro os países mais pequenos. Fui a Estrasburgo, mas não fui a França. Fui a Estrasburgo pela União Europeia. E se for a Santiago de Compostela, vou a Santiago, mas não a Espanha, que isso fique claro”.
Francisco diz que a unidade da Europa é atualmente “um desafio”, mas que “ou a Europa continua a aperfeiçoar e a melhorar a União Europeia, ou se desintegra”.
“A União Europeia é uma visão de homens grandes”, sublinhou, citando Schumann e Adenauer.
Encontro com Orbán? Não sei
Questionado sobre se irá encontrar-se a sós com o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, no dia 12, Francisco afirmou não ter certezas, a menos de duas semanas de partir para uma viagem de poucas horas a Budapeste.
“Não sei se me vou encontrar com ele. Sei que as autoridades vão saudar-me. Não vou ao centro de Budapeste, vou ao congresso eucarístico e aí reunir-me-ei com os bispos e com as autoridades, e não sei quem virá. Na missa sei estará lá um ministro, mas não sei se será Orbán.”
Caso se encontre com o líder húngaro, que por um lado afirma ter como preocupação a defesa dos valores europeus mas, por outro, tem posições opostas às do Papa em relação ao acolhimento de refugiados, Francisco diz que não sabe ainda o que dirá. “Não ando com guião, olho nos olhos e digo as coisas. São uma série de ‘talvezes’ que não me ajudam, gosto do concreto”, disse.