A Coreia do Norte disparou nesta quinta-feira dois projéteis idênticos a mísseis balísticos de curto alcance no Mar do Leste, também conhecido como Mar do Japão.
O Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul disse ter detetado o lançamento do que se supõe serem dois mísseis balísticos por volta das 8h00 (23h00 em Lisboa) de perto de Hamhung, na costa leste da Coreia do Norte. Os projéteis viajaram cerca de 190 km a uma altitude de 20 quilómetros, acrescentou organismo.
Pyongyang afirmou, neste mês, que reforçaria as defesas contra os Estados Unidos e iria ponderar retomar “todas as atividades temporariamente suspensas” – uma aparente referência a uma moratória autoimposta em testes de armas nucleares e mísseis de longo alcance.
O lançamento desta quinta-feira ocorreu depois dois mísseis de cruzeiro disparados no mar de costa leste na terça-feira, fazendo aumentar a tensão internacional.
No início do mês, a Coreia do Norte testou mísseis guiados táticos, dois "mísseis hipersónicos" capazes de alta velocidade e manobras após a decolagem, e um sistema de mísseis ferroviários.
"O regime (Kim Jong Un) está a desenvolver uma impressionante diversidade de armas ofensivas, apesar dos recursos limitados e dos sérios desafios económicos", avança Leif-Eric Easley, professor de assuntos internacionais da Universidade Ewha, em Seul (Coreia do Sul).
Certos testes visam desenvolver novas capacidades, especialmente para evitar defesas de mísseis, enquanto outros lançamentos pretendem demonstrar a prontidão e versatilidade das forças de mísseis que a Coreia do Norte já implantou, acrescenta o especialista.
Na terça-feira, num discurso na Conferência sobre Desarmamento patrocinada pela ONU, o embaixador da Coreia do Norte nas Nações Unidas em Genebra, Han Tae Song, acusou os Estados Unidos de realizar centenas de "exercícios de guerra conjuntos" enquanto enviavam equipamentos militares ofensivos de alta tecnologia para Coreia do Sul e armas nucleares estratégicas para a região.
Essa atitude “está a ameaçar seriamente a segurança de nosso Estado”, sustentou o diplomata.
A Coreia do Norte não lança mísseis balísticos intercontinentais de longo alcance (ICBMs) ou testa armas nucleares desde 2017, mas começou a testar uma série de mísseis de curto alcance depois que as negociações de desnuclearização pararam após uma cúpula fracassada com os Estados Unidos em 2019.
EUA pedem regresso ao diálogo
Um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano já condenou os lançamentos norte-coreanos, classificando-os como uma violação de várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU e uma ameaça aos vizinhos da Coreia do Norte e à comunidade internacional.
Os Estados Unidos continuam comprometidos com uma abordagem diplomática e pedem à Coreia do Norte que se comprometa com o diálogo, acrescentou o porta-voz.
Na quarta-feira, o vice-secretário de Estado adjunto dos EUA para o Japão e a Coreia, Mark Lambert, disse que Washington "não tinha reservas" em conversar com a Coreia do Norte e estava disposto a marcar um encontro em qualquer lugar para conversar.
"Temos que ter uma discussão séria sobre a desnuclearização da Coreia do Norte e, se a Coreia do Norte estiver disposta a fazer isso, qualquer coisa promissora pode acontecer", afirmou.
Assim como em outros testes recentes, o Comando Indo-Pacífico dos militares dos EUA considerou o lançamento desestabilizador, mas sem representar uma ameaça imediata ao território ou ao pessoal dos EUA ou a seus aliados.
Coreia do Sul em alerta
Representantes da Coreia do Sul e dos Estados Unidos já manifestaram “profundas preocupações” com o último teste e concordaram em continuar a cooperar para evitar uma maior escalada, anunciou o Ministério das Relações Exteriores de Seul.
O recente "desenvolvimento notável" da Coreia do Norte em tecnologia nuclear e de mísseis não pode ser negligenciado, defende, por seu lado, o secretário-chefe do gabinete do Japão, Hirokazu Matsuno.
O Conselho de Segurança Nacional da Coreia do Sul já convocou uma reunião de emergência, na qual disse que os lançamentos eram "muito lamentáveis" e contrariavam os pedidos de paz e estabilidade na região.
Numa conferência de imprensa em Pequim, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinesas, Zhao Lijian, afirmou que a China pediu a todas as partes que "comunicassem e agissem com cautela, seguissem a direção do diálogo e negociação e promovessem conjuntamente a resolução política da questão da Península Coreana".