O funeral de Bento XVI realiza-se esta quinta-feira no Vaticano e poderá abrir a porta à criação de um estatuto para Papas eméritos.
Com a morte de Joseph Ratzinger, no passado sábado, será possível que a Santa Sé venha a definir um estatuto do Papa emérito, a pensar nos futuros Papas que decidam afastar-se devido ao avanço da idade, em vez de se manterem no cargo até morrer.
Os detalhes do funeral de Bento XVI já foram divulgados. A liturgia baseia-se, essencialmente, nas exéquias de um Papa reinante, com ligeiras modificações. Três pálios vão ser colocados no caixão de Bento XVI, juntamente com as moedas e medalhas cunhadas durante os seus anos de Papa reinante e um tubo de chumbo lacrado contendo um documento oficial escrito em latim descrevendo seu pontificado.
Como é tradicional para os pontífices, Bento XVI será colocado num caixão de cipreste que, segundo a tradição, foi a madeira utilizada para construir a Arca de Noé. O caixão será levado aos ombros desde a Basílica, onde o corpo esteve exposto nestes dias, e colocado no chão da Praça de São Pedro, em frente ao altar.
O Papa Francisco preside à missa exequial mas, como tem sido habitual nas grandes celebrações, será substituído no altar pelo decano do Colégio Cardinalício, o cardeal Ré, devido aos problemas que Francisco tem no joelho que o impedem de permanecer de pé durante muito tempo.
No final da missa exequial de Bento XVI, o caixão será levado em procissão até à cripta da basílica vaticana, para a sepultura. Aí, será colocado num outro caixão de zinco e, por fim, dentro de um terceiro de madeira de carvalho. Só depois é que o triplo caixão será depositado no mesmo túmulo onde esteve o Papa João Paulo II.
Prevê-se uma participação numerosa de fiéis e também de concelebrantes. O Vaticano confirma a presença de 120 cardeais, 400 bispos e 3.700 sacerdotes.
A novidade de haver dois Papas
A novidade maior deste funeral é o facto de há 600 anos não haver um Papa emérito na Igreja e, agora, vermos um Papa reinante a sepultar outro Papa.
A morte de Bento XVI desencadeou alguns comentários de analistas, dizendo que Francisco sentir-se-á mais livre de tomar agora uma decisão semelhante à de Ratzinger.
Se a existência de dois Papa no Vaticano já incomodava muitos, pior ainda seria haver três: dois Papas aposentados e um terceiro reinante.
Agora, esse problema acabou. Alguns também lembram que Bento XVI tinha 85 quando decidiu resignar e Francisco tem hoje 86.
Por diversas vezes, Francisco deixou claro que não hesitaria em renunciar se a sua saúde mental ou física o impedisse de liderar a Igreja Católica.
Em várias entrevistas o Papa elogiou o exemplo de Bento XVI, classificando a sua decisão como “um marco histórico que deve facilitar qualquer decisão de renunciar”.
Francisco declarou este verão, à agência Reuters, que, até agora, nunca sentiu essa necessidade mas, se vier a resignar, não ficará no Vaticano nem voltará para a Argentina, mas espera poder viver modestamente numa casa para padres aposentados em Roma, “porque é minha diocese”, de preferência, perto de uma grande igreja para poder passar os seus últimos dias a ouvir confissões.