A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre saudou esta quarta-feira a nomeação do arcebispo de Mossul, monsenhor Najib Moussa Mikhael, para o Prémio Sakharov 2020 pela defesa dos cristãos e pela salvaguarda de manuscritos históricos, durante a invasão jihadista do Iraque.
“Quando o Estado Islâmico chegou a Mossul, em agosto de 2014, garantiu a evacuação de cristãos, sírios e caldeus para o Curdistão iraquiano e salvaguardou mais de 800 manuscritos históricos que datam do século XIII ao século XIX. Mais tarde, estes manuscritos foram digitalizados e expostos em França e na Itália”, lê-se na nota dos nomeados ao Prémio Sakharov 2020, divulgada pelo Parlamento.
O secretariado português da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) realça que o arcebispo teve “um papel determinante” na salvaguarda de 1300 “preciosos” manuscritos do século XIII ao século XIX, que são “um testemunho eloquente da cultura cristã no Iraque”, quando o líder do Estado Islâmico proclamou o “Califado” jihadista, a 29 de junho de 2014.
A fundação pontifícia destaca que para a comunidade cristã, “mesmo os que ainda não conseguiram regressar a casa”, a possível atribuição do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento ao arcebispo de Mossul “será muito relevante” por que “representa toda a comunidade” que foi expulsa das suas terras “por um dos mais sanguinários grupos terroristas de que há memória”.
A Comissão dos Assuntos Externos, a Comissão do Desenvolvimento e a Subcomissão dos Direitos Humanos vão apresentar oficialmente os candidatos ao prémio no próximo dia 28, depois a Conferência dos Presidentes – presidente do Parlamento Europeu e os dirigentes dos grupos políticos – anuncia o vencedor, a 22 de outubro; a cerimónia de entrega do Prémio Sakharov 2020, em Estrasburgo, está agendada para 16 de dezembro.
O Prémio Sakharov, para a Liberdade de Pensamento, foi criado pelo Parlamento Europeu, em 1988, e destaca personalidades ou organizações que se dedicam à defesa dos direitos humanos e das liberdades individuais.
Entre os vencedores deste prémio incluem-se o sul-africano Nelson Mandela; as Mães da Praça de Maio de Buenos Aires, na Argentina; o dissidente cubano Guillermo Farinas; o cineasta iraniano Jafar Panahi; Xanana Gusmão, de Timor-Leste; e, em 2019, Ilham Tohti, economista que luta pelos direitos da minoria uigure da China.
A Fundação AIS recorda que Najib Moussa Mikhael, como diretor do Centro Digital dos Manuscritos do Oriente, em Erbil, decidiu salvar os documentos, destacando que a comunidade cristã iraquiana é muito antiga e têm “muitas gramáticas e dicionários dos séc. XII e XIII, principalmente em aramaico, a língua de Jesus Cristo”.