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Com o país em estado de emergência, devido ao novo coronavírus, a cinco dias do fim do mês, uma autêntica calamidade pode bater à porta das micro, pequenas e médias empresas, muitas delas encerradas por força da pandemia.
O cenário é de quase total desinformação, num setor que se sente ignorado pelo Governo, apesar de representar a esmagadora maioria do tecido económico do país.
Jorge Pisco, presidente da Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME) reconhece, numa entrevista à Renascença, que o risco de falências em série é "enorme". O dirigente e empresário confessa que "as pessoas estão desesperadas, porque vão à Segurança Social e dizem-lhes que face a determinada situação não têm direito a nada, vão ao banco e ficam sem informação, tudo isto a cinco dias do fim do mês". Jorge Pisco interroga-se sobre o que vai acontecer, para concluir que os empresários "estão com a corda na garganta".
O mês de abril poderá ser ainda pior, admite o presidente da CPPME, mas já no final de março existe o sério risco de salários em atraso de uma forma generalizada. "Acho que sim. As empresas fecharam a meio do mês, ou seja, na segunda metade de março já não geraram receita. Muitas delas precisavam de ter faturado para chegar ao fim do mês e terem dinheiro para os salários, obrigações fiscais, etc. E no mês seguinte as coisas vão-se complicar; o próximo mês vai ser calamitoso", avisa Jorge Pisco.
Governo nem decide, nem esclarece
A falta de medidas esclarecedoras por parte do Governo é um dos maiores males na atual crise, aponta o presidente da CPPME.
"A confusão é generalizada, porque nada está regulamentado. Diz-se muita coisa, mas depois, no concreto, os empresários não conseguem ficar esclarecidos sobre as questões que vão sendo apontadas. Não conseguimos ter ideias arrumadas nem sobre o 'lay-off', nem sobre os apoios ao crédito, nada. Estamos a navegar à vista, é o termo", diz Jorge Pires, para quem muita coisa continua desajustada do mundo real das empresas.
"O 'lay-off' não está adaptado às micro e PME, pela fatia que as empresas têm que pagar, [30% dos salários] mas não só. É necessário garantir que os empresários vão receber apoios em tempo útil para terem disponibilidade de tesouraria e poderem fazer face às despesas que vão ter. Os 60 dias para que se está a apontar não é uma solução viável. É necessário celeridade e adaptação à realidade. Tudo aquilo que está feito não tem em conta este setor que representa 99,4% do tecido económico português", denuncia o empresário.
E o que aí vem não é nada de bom, avisa. "Temos associados que já fecharam, que não sabem se hão-de ir para 'lay-off' que, no fundo, não sabem o que hão-de fazer. Fechar a porta é muito fácil, abrir é que vai ser complicado e a retoma económica será muito, muito complicada. É para isto que temos que olhar. Como se vai recompor a vida de milhares de empresas com centenas de milhar de trabalhadores", acentua Jorge Pires, que adverte que estas empresas "vivem das receitas mensais da sua atividade, o que dará para um ou dois meses, no máximo".
À espera de notícias do Terreiro do Paço
Esta quarta-feira pode ser importante para as micro, pequenas e médias empresas, caso o Governo cumpra com a promessa de facultar mais informação aos empresários.
"Aguardamos uma resposta dos ministérios da economia e do trabalho às propostas que fizemos. Continuamos sem reposta até esta data. na terça-feira dirigimos uma carta ao primeiro-ministro para que fosse aberto um canal de informação detalhada entre o governo e a CPPME. Fomos informados que esta quarta-feira iriamos receber da parte dos ministérios do trabalho e da economia, alguma informação. Estamos a aguardar que ela chegue", conclui.