O regresso a Portugal de centenas de milhares de portugueses vindos de África em 1975 foi um acontecimento dramático, mas que acabou por ter alguns efeitos positivos. Os “retornados” de um modo geral integraram-se bem na sociedade portuguesa. Não aconteceu como em França, onde ainda hoje persiste alguma hostilidade entre a população e os que voltaram da Argélia quando esta se tornou independente, em 1962.
Inúmeros “retornados” lançaram-se então em pequenos empreendimentos – restaurantes, estações de abastecimento de combustíveis, etc. Como na altura escrevi, numa economia então largamente nacionalizada, os ex-colonos eram quase a única manifestação de uma iniciativa privada activa.
Recordo esta situação porque muitos dos quinhentos mil portugueses e luso-descendentes da Venezuela regressam ou pensam regressar a Portugal. Sobretudo à Madeira, de onde serão originários 80% da comunidade portuguesa na Venezuela. O que, naturalmente, coloca sérios problemas às finanças madeirenses.
Os que fogem da Venezuela querem livrar-se do inferno em que se tornou aquele país, o maior detentor mundial de reservas de petróleo. Uma enorme riqueza natural, desperdiçada pela corrupção, primeiro, e depois pela crassa incompetência de um governo que será tudo menos democrático. Mas se há quem veja democracia na Coreia do Norte…
O regime de Maduro (que não tem o carisma de Chavez) recorre à violência para travar os protestos da população. Já se contam mais de 50 mortos. E essa violência vem, não apenas das forças militares e de segurança, mas também de milícias armadas pelo poder político, milícias que agem sem um mínimo de regras.
Como é habitual, Maduro e os seus seguidores atribuem a desgraça do seu país a inimigos externos – concretamente, aos EUA. Ora o governo de Maduro contribuiu com um milhão de dólares, através da empresa estatal Petróleos de Venezuela, para a tomada de posse de Trump. A revelação consta de um recente artigo, inserto no Jornal de Negócios, de Kenneth Rogoff, um conhecido professor de economia em Harvard, que participou nas Conferências Estoril esta semana.
Será que a aposta em Trump saiu furada a Maduro? De qualquer forma, é curiosa a atracção que Trump exerce em ditadores, de Putin a Maduro, passando pela família real saudita ou pelo presidente do Egipto.