“Estamos a viver um momento muito particular no país”, aponta Fernanda Fragateiro. A artista é uma das quatro mulheres que tem, neste momento, uma exposição em nome próprio em grandes instituições. Fernanda Fragateiro inaugurou esta quinta-feira, no Centro Cultural de Belém (CCB) a mostra “Em Bruto: Relações Comoventes”.
Criada em 2020 para o museu espanhol da Fundação Cerezales Antonino y Cinia, de Leon, esta exposição foi agora adaptada para ser mostrada no CCB. Em entrevista à Renascença, Fernanda Fragateiro mostra-se satisfeita por “finalmente” as mulheres artistas portuguesas têm espaço nas instituições e museus”.
Fragateiro recordou que passou “um longo período” em que não teve “oportunidade” de mostrar “nas grandes instituições e museus” o seu trabalho. A artista diz estar feliz por, a par dela, haver também exposições das artistas Luísa Cunha, no MAAT, e de Sónia Almeida na Culturgest e Carla Filipe, em Serralves. “Há uns anos isto era uma paisagem impossível de encontrar”, desabafa.
“Era muito raro encontrar ao mesmo tempo várias exposições antológicas, exposições grandes e importantes de mulheres artistas”, critica a artista que sublinha já ter 60 anos e já ter testemunhado “momentos muito difíceis, porque não havia espaço”, diz a artista ao programa Ensaio Geral, da Renascença.
Na exposição agora apresentada, com a curadoria de Alfredo Puente, Fernanda Fragateiro apresenta uma série de obras em que revela o seu trabalho de pesquisa, os livros que a acompanham, bem como uma série de esculturas em madeira que fazem um diálogo com o universo da arquitetura.
Entrar no atelier da artista
Em entrevista à Renascença, Fernanda Fragateiro revela que o seu atelier “é muito arrumado”. À semelhança dessa arrumação, a artista preparou para a primeira sala da exposição uma amostra dos materiais de trabalho.
Trata-se de caixas de madeira, em forma de mesa que funcionam como uma espécie de contentor de criação. Lá dentro estão revistas, imagens, materiais, pequenas ruínas que inspiraram ao longo dos anos o trabalho de Fernanda Fragateiro.
“Acho que é muito importante darmos pistas às pessoas” explica a artista que através destas peças pretende ajudar o público a entender a sua obra. “Os Material Labs é esse conjunto de obras que traz dentro de si materiais que revelam qual é o assunto, quais são as minhas preocupações”, descreve Fragateiro.
Na segunda sala a artista reuniu livros que são referência também para o seu trabalho numa mesa que antecipa a instalação de grande dimensão da última sala. É o “corolário do diálogo com a arquitetura e das questões com as quais a Fernanda Fragateiro tem vindo a lidar”, disse Delfim Sardo na apresentação da exposição.
Segundo o administrador do CCB, esta exposição que se situa no espaço contiguo à exposição de Luigi Ghirri “faz um sentido muito particular. Há um foco nas questões da paisagem e da arquitetura, numa geografia social da arte, que é uma das tónicas mais importantes da arte nos dias de hoje”, indicou.
Na última sala surge uma instalação feita em madeira, uma rede de traves e cavaletes que evocam a ideia de construção. À Renascença, Fernanda Fragateiro explica “ao fazer este trabalho” sentiu que estava a “regressar às primeiras instalações” que fez onde “usava madeira e tinha uma relação muito forte com a arquitetura.
Gravado na memória da artista está o incêndio do Chiado que na década de 80 deixou a descoberto as ruínas dos edifícios e as suas estruturas. “Pôs à vista os esqueletos das construções”, recorda Fernanda Fragateiro.
A artista que assume que o seu trabalho teve sempre uma “relação muito forte com a paisagem”, explica que escolheu algumas frases e títulos de livros para inscrever nas traves de madeira que fazem a instalação.
“Em Bruto: Relações Comoventes” é uma exposição que pode ser visitada até 10 de setembro, no Museu CCB.