O Papa assinou uma mensagem conjunta com o primaz anglicano e o líder da Igreja da Escócia, apelando à paz no Sudão do Sul, que celebra esta sexta-feira o 10.º aniversário de independência, mergulhado em crise social e política
“Infelizmente, o vosso povo continua a viver com medo e incerteza, sem confiança de que o seu país possa realmente oferecer a ‘justiça, liberdade e prosperidade’ celebrada no hino nacional”, refere o texto dirigido aos líderes políticos da mais jovem nação africana.
A declaração é assinada por Francisco, Justin Welby (arcebispo da Cantuária, Comunhão Anglicana) e Jim Wallace (Moderador da Igreja da Escócia, presbiteriana).
“Neste dia, que marca os dez anos da independência do Sudão do Sul, enviamos os nossos melhores votos, conscientes de que este aniversário traz à tona as lutas do passado e aponta com esperança para o futuro”, lê-se no documento enviado pela sala de imprensa da Santa Sé.
“A vossa nação é abençoada com um potencial imenso e nós encorajamos-vos a fazer esforços ainda maiores para permitir que o vosso povo desfrute de todos os frutos da independência”, acrescentam os responsáveis cristãos.
Francisco, Welby e Wallace tinham assinado uma mensagem conjunta, no último Natal, pedindo que os líderes políticos desenvolvessem uma relação de confiança e fossem “mais generosos no serviço ao seu povo”.
“Desde então, ficamos satisfeitos por ver alguns pequenos progressos. Muito mais precisa de ser feito no Sudão do Sul para formar uma nação que reflita o reino de Deus, na qual a dignidade de todos seja respeitada e todos sejam reconciliados”, realçam agora.
Os responsáveis cristãos sublinham que aos políticos é pedido “sacrifício pessoal” no serviço ao seu país.
“Queremos que saibam que estamos ao vosso lado enquanto olhais para o futuro e procurais discernir como melhor servir todas as pessoas de Sudão do Sul”, indicam.
O texto evoca o “histórico encontro” dos líderes políticos e religiosos do Sudão do Sul no Vaticano, em 2019, e as promessas feitas nessa ocasião.
“Rezamos para que essas promessas moldem as vossas ações e para que seja possível visitarmos e celebrarmos pessoalmente convosco e o vosso povo”, concluem o Papa, o primaz anglicano e o líder da Igreja da Escócia.
O encontro de 2019, no Vaticano, ficou marcado pelo gesto de Francisco que, no final do seu discurso de encerramento do retiro espiritual, se inclinou para beijar os pés dos líderes do Sudão do Sul, reunidos para a iniciativa de paz.
O Sudão do Sul, com uma população maioritariamente cristã, obteve a sua independência ao separar-se do Norte árabe e muçulmano em 2011, mas no final de 2013 mergulhou num conflito civil causado pela rivalidade entre o presidente, Salva Kiir, e o seu então vice-presidente, Riek Machar.
A situação agravou-se nas últimas semanas, com milhares de deslocados, por causa da violência, sem acesso a alojamento, água ou alimento, alertou a diocese católica de Tombura-Yambio.
Aloysius John, secretário-geral da ‘Caritas Internationalis’, refere em nota enviada à Agência ECCLESIA que “o décimo aniversário da independência pode representar um ponto de partida para um novo Sudão do Sul” em direção à estabilidade política e um desenvolvimento humano integral.
Gabriel Yai, diretor da Cáritas do Sudão do Sul, pede um “forte apoio da comunidade internacional”, num momento em que os principais partidos assinaram um acordo de paz e se forma um exército nacional.
“Esta é uma oportunidade de ouro para a comunidade internacional apoiar a construção nacional. O nosso país precisa mais do que nunca de apoio político internacional”, refere.