Foi em finais de 2016 que Catarina Oliveira, então com 27 anos, foi informada que nunca mais poderia andar depois de uma inflamação na medula. Embora tenha "lidado bem" com a nova realidade, muito rapidamente se apercebeu das dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência.
"Comecei a perceber que o mundo à minha volta não me oferecia condições equitativas", afirma.
A portuense não hesitou em partilhar, no Instagram, as situações "bem ridículas" que experiencia quando sai à noite ou quando viaja, procurando desmitificar diversas questões sobre as pessoas com deficiência.
"O olhar das pessoas é como se estivesse a aparecer ali uma espécie em vias de extinção", conta Catarina Oliveira sobre a inspiração para o nome da conta, que soma hoje mais de 47 mil seguidores.
"Sou sempre um ponto luminoso no meio de uma multidão", afirma.
O projeto aborda uma variedade de temas relacionados com as pessoas com deficiência, como a acessibilidade, a linguagem inclusiva e a sexualidade, valendo-lhe uma nomeação no prémio "Dia do Voluntariado na Universidade do Porto" deste ano.
A ativista acredita que "as pessoas muitas vezes não sabem como interagir com uma pessoa com deficiência", preferindo recluir-se, mesmo quando querem comunicar.
Se isto não ocorre, acontece antes "uma interação muito infantilizada", em que a pessoa com deficiência muitas vezes nem é abordada, sendo a palavra dirigida a quem está com ela.
Por outro lado, "há sempre aquela atitude mais condescendente e paternalista", que se expressa em atitudes como "coitada da pessoa que tem uma deficiência - ela pode fazer tudo o que quiser porque deve ser uma excelente pessoa, só porque tem uma deficiência!", ironiza Catarina Oliveira.
A ativista afirma que os media associam uma imagem de revolta às pessoas com deficiência, tornando-se inesperada a sua presença em locais públicos.
"É um estereótipo, muito confortável para a sociedade, que se cria sobre as pessoas com deficiência", afirma, retorquindo que "aquela pessoa está, na verdade, a protestar porque lhe estão a negar um direito humano", consagrado na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU.
Catarina Oliveira afirma que, no seu caso, a "revolta" não se origina devido à sua deficiência, mas porque "não são acomodadas as necessidades específicas necessárias para ter uma vida equitativa".
A conversa torna para possíveis soluções, em especial medidas legislativas, com Catarina Oliveira a considerar que, a "bíblia da acessibilidade", o decreto-lei n.º 163/2006, "até está bastante completa".
O problema, contudo, "é que não é aplicado nem há as devidas fiscalizações", afirma, considerando este "o grande problema" ao nível legislativo.
"A mentalidade capacitista também atrasa isto, pois a sociedade ainda olha para a pessoa com deficiência como alguém menos capaz e que não merece ter as mesmas oportunidades", declara.
Mesmo com estes percalços, Catarina Oliveira acredita que estão a ser feitos grandes progressos na matéria da acessibilidade e inclusão, declarando que "as crianças de hoje já estão um bocado mais desconstruídas" em relação a sistemas de opressão como o capacitismo, o racismo e o sexismo.
"A educação e o diálogo são duas armas muito poderosas", afirma.
O combate ao capacitismo não se exerce apenas na questão da acessibilidade física, com a inclusão no mercado de trabalho a ser uma das matérias que Catarina Oliveira defende através de formações e palestras.
A formadora cita a lei das quotas, agora alargada à função privada e que obriga a um mínimo de 1% de trabalhadores com deficiência em empresas entre 75 e 250 trabalhadores (2% no caso de empresas com mais de 250 trabalhadores), como uma medida "necessária para que as pessoas com deficiência entrem de alguma forma no mercado de trabalho".
Segundo Catarina Oliveira, trata-se de um "impulso enorme" na matéria da inclusão, embora "não seja uma lei perfeita", pois apenas se aplica a pessoas com mais de 60% de incapacidade.
"Há pessoas não-abrangidas que também têm necessidades específicas. Temos que trabalhar para melhorar esta lei", afirma. .
A formadora adverte também que "não podemos ficar pelas quotas", sendo importante "formar as pessoas para acolher um trabalhador com deficiência de forma equitativa".
Trata-se não apenas de uma questão de responsabilidade social, mas também de "sobrevivência corporativa", sublinha. .
"As empresas têm que trabalhar numa verdadeira diversidade, pois o cliente identifica-se cada vez mais com empresas que reflitam o que está a acontecer na sociedade", afirma Catarina Oliveira.
São medidas como esta que Catarina Oliveira espera levem à emancipação das pessoas com deficiência.
"As pessoas só veem a cadeira de rodas, só veem uma deficiência. [...] Quando falamos de capacitismo, não podemos esquecer que estamos a falar de seres humanos. As pessoas com deficiência são todas muito diversas", conclui.