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Hugo Messias é português e faz parte da equipa de investigadores que há poucos dias escreveram mais uma página na história da astronomia e na história do século – a descoberta de um buraco negro que confirma o que Einstein teorizou há mais de 100 anos.
"Passei muito tempo à volta destes dados. Tinham de estar o melhor possível. Mas foi muito enriquecedor e todos os dias tenho aprendido mais.", confessa o jovem português, que vê agora o resultado do seu trabalho contribuir para uma conquista memorável.
No liceu, Hugo estudou artes e física. Mas o momento em que os pais lhe ofereceram um telescópio foi crucial para perceber que queria seguir Astrofísica. Da faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde se formou, saltou para o Chile, onde está desde 2016, inserido num programa de pós-doutoramento, no ALMA (Atacama Large Milimeter Array) – um observatório, no deserto do Atacama, cujas 66 antenas contribuíram para uma das maiores descobertas do século.
O primeiro contacto com o ALMA aconteceu quando terminou o doutoramento e decidiu ir para Concepción, no centro do Chile, fazer um pós-doutoramento. Mais tarde, voltou para Portugal e, durante dois anos, trabalhou como líder científico no Centro de Competências para o ALMA, em Lisboa. Mas decidiu regressar ao Chile e em 2016 candidatou-se a um pós-doutoramento na sede do ALMA – no âmbito do qual contribuiu para a descoberta do buraco negro da galáxia M87.
A pressão de participar numa descoberta histórica
Da equipa do Event Horizon Telescope (EHT), o projeto multinacional para o qual o ALMA colabora, fazem parte 200 pessoas, de vários pontos do globo. O financiamento é europeu, asiático e norte-americano.
Há 13 anos que esta investigação estava em curso. O principal motivo para que se tenha chegado só agora a este resultado, aponta Hugo, é o desenvolvimento (ou a falta dele) da tecnologia, onde se pudessem aplicar determinadas técnicas. “Começou-se a achar que devíamos gastar mais esforços para fazer este tipo de observações. A partir daí, melhorámos os recetores, para quando a informação fosse enviada para Boston ou Bonn (que também fazem parte da EHT) se conseguissem combinar os dados de forma correta. Foi preciso um salto tecnológico. A técnica já havia”, explica o astrofísico.
O investigador, de 33 anos, confessa que a pressão sentida era muita. Enquanto colaborava neste projeto, também continuava a colaborar noutros do ALMA. Numa equipa de quatro pessoas, participou em campanhas de testes do sistema do ALMA, preparou e fez observações e, posteriormente, fez o tratamento dos dados.
“Estas observações ainda não responderam a tudo. Vamos conseguir chegar a outras conclusões com monotorização temporal. Anualmente, há temporada de observações deste género, normalmente em abril.”, explica.
Conseguir perceber como são formados os jatos de luz é uma questão que, Hugo refere, está ainda a ser estudada e observada.
Para Hugo, a parte mais importante é a óbvia: confirmar uma teoria com mais de 100 anos.
Por outro lado, significa que a técnica é possível e que se pode estender isto a outras fontes, “com uma estação no espaço”, defende Hugo. “A técnica resulta, conseguimos coisas sólidas e imagens que fazem sentido. Não há como negar que a morfologia é assim. Estamos no caminho certo.”
O ALMA tornou-se uma referência nesta rede, a do EHT. Caso não existissem as estações do Chile – a APEX e o ALMA - a imagem que teríamos agora do buraco negro seria muito diferente.