As democracias ocidentais modernas substituíram o "ancien regime" do privilégio da aristocracia por um regime meritocrático. Pelos menos a ideia era essa.
A sociedade americana (i.e., os Estados Unidos) frequentemente propõe-se como modelo de meritocracia: "O valor da pessoa mede-se pela sua obra, não pela família em que nasceu", poderia ser o lema. E a meritocracia, juntamente com o princípio da igualdade de oportunidades, é a base do edifício da justiça social.
No entanto, é caso para perguntar: até que ponto é que a meritocracia e a igualdade de oportunidades promovem a justiça social? O problema é que a igualdade de oportunidades é um conceito muito limitado. Por exemplo, dizer que todos têm direito à educação, nomeadamente à educação gratuita, não significa que todos tenham as mesmas oportunidades. Há pessoas mais inteligentes e há pessoas menos inteligentes, e, por mais que queiramos igualar as regras do "jogo", o resultado será sempre diferente.
A ideia de que a meritocracia e a igualdade de oportunidades não garantem a justiça social é cada vez mais manifesta na nossa sociedade. A revolução digital, nomeadamente o desenvolvimento da robótica e da inteligência artificial, vêm exacerbar as diferenças de habilitações entre as pessoas, criando um verdadeiro "fosso" que separa os que estão do lado "certo" da revolução digital dos que, apesar da "igualdade de oportunidades", se encontram do lado "errado".
Urge repensar a sério o que significa, e como atingir, a justiça social.