O Departamento de Catequese do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC) está a promover uma formação para formadores de catequistas sobre o itinerário “Ser catequista”, com participantes das várias dioceses de Portugal.
A formação, que decorre através das plataformas digitais, começou dia 13 de janeiro e termina no 24 de março, com sessões semanais.
Em entrevista à Renascença, o presidente da comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé (CEECDF), D. António Moiteiro, fala da importância da formação dos catequistas e adianta que está em preparação um novo itinerário de formação de catequese com famílias, com crianças e adolescentes.
Está a decorrer online um itinerário formativo para catequistas de todo o país. O que se pretende com esta iniciativa?
Pretendemos com a formação “Ser Catequista” abranger a primeira iniciação ou a primeira etapa na formação de catequistas a nível nacional.
A formação de catequistas tem várias etapas ou vários degraus. Tem um que é de sensibilização, que significa o catequista ter as ideias mínimas e a formação básica para poder iniciar esta missão na Igreja. Depois temos o que nós chamávamos antigamente o curso de iniciação, que agora demos-lhe o nome “Ser Catequista”. E estamos já a constituir a equipa para um terceiro degrau, o curso que vem a seguir ao “Ser Catequista” e que anteriormente era o chamado curso elementar de catequese.
Gostávamos, a nível nacional, a nível do secretariado da Educação Cristã, ao menos, termos três etapas de formação de catequistas: a sensibilização, o “Ser Catequista” e depois a etapa que estamos agora a iniciar. Porque, sem formação, os catequistas não poderão realizar plenamente a sua missão.
Como estão a aderir os catequistas a esta proposta formativa?
É com alegria que estamos a perceber a adesão que tem havido todas as quartas-feiras. Mais de 200 catequistas estão a fazer a sua formação. Na minha diocese de Aveiro, já tenho um núcleo de cinco ou seis catequistas a fazerem este curso online. Já tenho na diocese cerca de 200 catequistas a fazerem este curso. Neste momento e nas circunstâncias em que estamos, é online. A pandemia trouxe-nos esta possibilidade de podermos fazer formação online. É verdade que a fé também se aprofunda, também cresce, confrontando-a com outros. Isto é, a fé, como dizia o Papa São João Paulo II, cresce, dando-se. Quanto mais se dá, mais se tem. Mas isso, nestas circunstâncias em que estamos, em que o presencial não é possível, o online tem feito um papel muito importante na formação dos nossos catequistas. O desafio que eu lanço é que os arciprestados formem dois ou três padres, com dois ou três catequistas, e façam o curso para os catequistas do arciprestado. Aqui, na diocese, estamos a tentar isso e tem sido possível.
É preciso formar para enviar?
Há dias estive a apresentar este curso numa das minhas paróquias da diocese, antes deste confinamento. Foi numa igreja ampla, tínhamos quase 50 catequistas. Eu apresentei o curso, mas também perguntei quem tinha aquela formação inicial do curso de iniciação. Só tinha um catequista. É um grupo de catequistas jovem, humana e intelectualmente bem preparado, mas que agora, também, é necessário que a preparação teológica, pedagógica, a formação cristã seja feita aos catequistas para que eles possam, depois, verdadeiramente, com os seus catequizandos, fazer uma experiência de fé. Isto é o que é importante. São necessários os conhecimentos, sim. É necessário que o catequista, os catequizandos e os pais - porque sem os pais também não há frutos - se envolvam todos, para se fazer a experiência de fé, para fazermos uma experiência de Jesus Cristo no meio de nós. E este é o grande desafio da formação de catequistas.
Percebo que a formação de catequistas está em processo de mudança…
Penso que em mudança e em mudança profunda. Quando falávamos no curso de iniciação ou no curso geral de catequese para os catequistas, normalmente fazíamos uma formação para que os catequistas tivessem competência para serem catequistas. Neste momento, com a secularização galopante a que estamos a assistir nas nossas paróquias, com a evolução até de como a transmissão da fé hoje exige à igreja, às paróquias, a cada um de nós, basta lembrar a catequese online em que estamos metidos, devido à pandemia, nós demos uma volta de 180 graus à formação de catequistas.
O que muda então?
A formação de catequistas, neste momento, não é para se “ser catequista”, mas é para o ser cristão. O curso de formação de catequese, o “Ser Catequista”, é, sobretudo, um momento de encontro do catequista com Cristo. É como que uma catequese de adultos para os catequistas. Podemos dizer que o “Ser Catequista” não é para aprender a ser catequista, mas é para aprender a viver como cristão. Porque só depois do catequista assumir esta identidade cristã é que, depois, pode transmiti-la aos outros. Mas, primeiro, o catequista tem que fazer a experiência de uma vida cristã autêntica, de uma vida em comunidade, que normalmente é o grupo de catequistas, inserido numa paróquia e é aí que ele é testemunha da sua fé. Para isso, tem de ter competências a nível teológico, a nível psicológico, a nível pedagógico, a nível bíblico… Tudo isso é verdade. Mas, no início do ser catequista, está o ser cristão e isto é fundamental até para que o catequista seja um autêntico testemunha da fé.
Podemos, então, afirmar que o catequista é muito mais do que aquele que ensina?
É aquele que testemunha, porque, antes do transmitir, vem o testemunhar. É muito interessante que, Jesus, no final do Evangelho de São Mateus, quando envia os discípulos, no final, mesmo nos dois últimos versículos, tenha dito: “ide, fazei discípulos em todas as nações e batizai, ensinando-os a cumprir tudo o que eu vos mandei...”. De facto, a função primeira da catequese é fazer discípulos. E para se fazer discípulos, é necessário que o catequista também seja ele próprio um verdadeiro discípulo, um autêntico crente, alguém que testemunha a sua fé. Por isso, o catequista, mais do que transmitir, é aquele que testemunha. Isto é fundamental. O Papa tem-no dito várias vezes, a partir da Alegria do Evangelho, a primeira exortação apostólica, até ao discurso que fez, há menos de quinze dias, ao Serviço Nacional de Catequese de Itália. O Papa foi muito claro ao afirmar que a catequese não pode, de maneira nenhuma, dissociar-se do kerigma, o anúncio de Cristo Ressuscitado. É por isso que o nosso curso “Ser Catequista” assenta sempre nesta realidade, no encontro com Jesus, para que esse encontro seja vida para o catequista e, consequentemente, vida também para os seus catequizandos.
Ao nível das famílias, nota-se um certo afastamento da vida cristã. Como envolver os pais na dinâmica catequética?
É um grande desafio, talvez o maior desafio das nossas catequeses e das nossas comunidades cristãs, que é o lugar da família como Igreja doméstica, na transmissão da fé aos mais novos. Mas passa também pela vivência da fé no seio da própria família.
E o que fazer para trazer as famílias de novo à Igreja?
A nível nacional, estamos preocupados e estamos a elaborar um novo itinerário de catequese. Estamos a falar em formação para catequistas. O Novo Diretório para a Catequese, de junho passado, diz-nos, quando se refere aos destinatários da catequese, que temos que mudar o nosso ponto de vista. Enquanto que no último Diretório da Catequese, de 1997, os destinatários eram os adultos e depois as crianças, os adolescentes, os jovens, e no primeiro Diretório, de 1971, os destinatários primeiros eram as crianças, agora, em 2020, os destinatários são as famílias. A catequese tem que ser com as famílias, com as crianças, com os adolescentes, com os jovens e com os adultos. Não podemos dizer ‘catequese da família’, ‘catequese das crianças’... Não! Isto muda a perspetiva. Os primeiros educadores, os primeiros catequistas são os pais e é com eles que nós temos que fazer a experiência de fé. E é vidente que este é um desafio muito grande. Estamos a pensar que o catecismo não seja apenas o catecismo da criança ou do adolescente, mas que seja o catecismo da família; o catecismo para os filhos, mas também o catecismo para os pais. A família tem que ser o objeto principal e primeiro das nossas preocupações pastorais.
Isto quer dizer que está em marcha um novo paradigma para a catequese?
Está em andamento um novo itinerário de formação de catequese com famílias, com crianças e adolescentes.