"Não é uma catástrofe, pode-se mudar de Papa", diz Francisco
30-07-2022 - 09:43
 • Aura Miguel (enviada ao Canadá) com redação

O Papa, atualmente com 85 anos, desdramatizou a sua sucessão, mas admitiu que poderá ter de abrandar o ritmo.

Aos 85 anos, o Papa considera que a sua resignação não será um problema. A expressão foi usada por Francisco na viagem de regresso a Roma, vindo da sua deslocação ao Canadá.

Questionado pelos jornalistas sobre a sua saúde a bordo do avião, onde falou pela primeira vez sentado, o Papa desdramatizou a sua sucessão, mas admitiu que poderá ter de abrandar o ritmo.

“Com a minha idade e com as minhas limitações, tenho de me poupar um pouco para poder servir a Igreja. Ou então, pelo contrário, pensar na possibilidade de me afastar. Honestamente, isto não é uma catástrofe, pode-se mudar de Papa, não há problema. Creio que devo limitar um pouco os meus esforços. Veremos. tenho boa vontade, mas veremos o que diz a minha perna.”

Nestas declarações, Francisco assume que a resignação é uma opção normal, mas que até hoje ainda não bateu àquela porta. “Isto não quer dizer que talvez depois de amanhã comece a pensar nisso, mas sinceramente neste momento não. Será o Senhor a dizê-lo, mas é verdade que a porta está aberta.”

Questionado sobre o facto de não ter usado a palavra genocídio durante a viagem, o Papa afirmou que não o fez porque não lhe ocorreu, mas lembra que descreveu um genocídio. “E pedi desculpa e perdão por este trabalho que é genocida. Por exemplo, também condenei isto, retirar as crianças, mudar a cultura, a mente, mudar as tradições, mudar uma raça, digamos, e toda uma cultura. Sim, genocídio é uma palavra técnica. Não a usei porque não me ocorreu, mas o que descrevi é um genocídio, sim.”

Ainda no rescaldo desta viagem, voltou ao tema da colonização, para alertar para as novas formas que esta assume. "As colonizações ideológicas de hoje têm o mesmo esquema: quem não alinha com os seus caminhos, é considerado inferior. É a doutrina da colonização. É verdade é má e injusta, mas ainda hoje é usada. E isto é grave.”


O Papa encerrou sexta-feira, no aeroporto de Iqaluit, junto ao círculo polar ártico, a sua primeira viagem ao Canadá, marcada pelo ‘mea culpa’ de Francisco, perante representantes indígenas, pelos abusos cometidos no passado.

Estima-se que 150 mil crianças indígenas tenham sido forçadas a frequentar escolas residenciais, um sistema de orfanato promovido pelo Governo, para a “assimilação” cultural destas populações, entre finais do século XIX e o séc. XX; mais de 60% destas escolas foram administradas pela Igreja Católica.

Em 2015, após sete anos de investigação, a Comissão de Verdade e Reconciliação do Canadá divulgou um relatório sobre escolas residenciais, revelando que entre 1890 e 1996 mais de quatro mil crianças morreram por causa de doenças, fome, frio e outros motivos.

A 37.ª viagem internacional do pontificado, apresentada como uma “peregrinação penitencial” iniciou-se na cidade de Edmonton, região ocidental do Canadá, onde foi recebido por autoridades dos povos nativos.