O primeiro-ministro, António Costa, diz estar em "total convergência" com o Presidente da República no repúdio sobre tentativas de partidarização e de envolvimento das Forças Armadas "em jogos de poder", na sequência do caso de Tancos.
No domingo, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que não será tolerado o uso da instituição militar para "jogos de poder", num discurso na cerimónia que assinalou os cem anos do armistício da I Guerra Mundial.
"Essas palavras, uma vez mais, reafirmam a total convergência entre o Governo e o Presidente da República sobre essa matéria. É absolutamente lamentável a tentativa de partidarização e o jogo político em torno das nossas Forças Armadas", reagiu o líder do executivo, depois de ter presidido à sessão de abertura da "Venture Summit", evento inserido na Web Summit.
Numa alusão às circunstâncias do roubo de armamento em Tancos, Costa declarou que se trata "de um caso lamentável que compete às autoridades judiciárias investigar" e que compete ao poder político "respeitar e confiar nas autoridades para que levam até ao final todas as suas investigações".
António Costa considerou, ainda, "essencial respeitarem-se as autoridades judiciárias, que estão, seguramente, a fazer o seu melhor trabalho, para esclarecerem tudo até ao fim, doa a quem doer, como têm dito o Presidente da República e o Governo ao longo destes anos".
"Como o senhor Presidente da República disse, é absolutamente lamentável tentar-se criar uma espécie de névoa que encubra o essencial: O trabalho das autoridades judiciárias no sentido de fazerem aquilo que lhes compete, que é investigarem o crime, identificarem e capturarem os ladrões, levarem-nos a julgamento - e também cúmplices, se os houver, ou alguém que tenha encoberto ou procurado encobrir a sua identidade", completou o primeiro-ministro.
Conclusão rápida da investigação
Costa salientou "a confiança" no poder judicial e, em concreto, na Polícia Judiciária, a entidade a quem está a cargo a investigação, deixando depois uma mensagem: "Esperamos que tão depressa quanto possível faça a investigação que aguardamos."
"O senhor Presidente da República, aliás, não se tem cansado em expressar publicamente a sua ansiedade e o Governo, naturalmente, deve ser mais contido em expressar a sua ansiedade, mas não é menor. Acho que ninguém compreenderia em Portugal é que, relativamente a este crime, não se chegasse ao final da investigação punindo quem deve ser punido e esclarecendo tudo o que deve ser esclarecido", salientou.
Para o primeiro-ministro, "não é possível procurar-se criar uma névoa política sobre aquilo que é a atividade das autoridades judiciárias".
Mas, neste ponto, António Costa foi mais longe, criticando "teorias conspirativas bastante absurdas, como procurando ver qualquer confrontação entre o Presidente da República e o Governo sobre esta matéria, quando, quer um, quer outro, têm tido uma posição absolutamente convergente desde o primeiro dia".
A investigação do Ministério Público sobre o aparecimento do material furtado, designada Operação Húbris, levou à detenção para interrogatório de militares da PJM e da GNR.
O caso já provocou duas saídas: o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, que se demitiu e foi substituído por João Gomes Cravinho; o Chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, também se demitiu, lugar agora ocupado pelo general José Nunes da Fonseca.
O furto de material militar dos paióis de Tancos - instalação entretanto desativada - foi revelado no final de junho de 2017. Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.
As armas apareceram depois em outubro de 2017, na Chamusca. Mas, a listagem do material recuperado - enviada à comissão parlamentar de Defesa - confirma que falta recuperar cinco granadas e mais de 30 cargas de explosivos.