As denúncias da Igreja Católica de Angola sobre o quadro de corrupção generalizada no país podem abrir espaço a uma reflexão mais profunda sobre o regime, na convicção do especialista em assuntos africanos António Pacheco, ouvido pela Renascença.
O analista considera que é ainda cedo para avaliar os reais efeitos da nota pastoral da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe, que, em tom duro, aponta a corrupção como a causa profunda da pobreza em Angola, a par do mentalidade compadrio e nepotismo.
António Pacheco antevê que possa haver uma tentativa de silenciamento da nota pastoral, por parte dos responsáveis do regime angolano. "O momento de fragilidade do poder angolano deverá levar o governo a não permitir a publicação de notícias sobre o documento”, argumenta. Contudo, a nota pastoral não deixará de ter "enorme repercussão” na população angolana, por força do eco que dela será feito "nas igrejas, nas celebrações, nas mensagens dos bispos e sacerdotes”.
O especialista lembra que, até agora, o regime de Luanda tem contado com alguma passividade da Igreja católica, um quadro que esta nota pastoral vem alterar. Até pelo tom, as críticas são inéditas e Pacheco lembrando também os casos de Brasil e Portugal para afirmar que elas também “espelham o que se passa no espaço lusófono, onde começam a surgir denúncias muito fortes sobre corrupção”.
António Pacheco antecipa uma “reflexão mais aprofundada sobre o regime angolano”, devendo aos bispos juntarem-se outros sectores da sociedade civil, que “já estão a reagir, da forma possível, contra o poder actual em Angola".