O climatologista Carlos da Câmara afirma que Portugal está a ser assolado por "fogos com uma intensidade nunca vista".
Em declarações à Renascença, o especialista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa fala numa "combinação explosiva" da seca com a onda de calor.
“Quando temos campos de golfe a arder no Algarve, quer dizer que foram atingidos níveis de stress nunca vistos e isso só devido às condições meteorologicamente excepcionalmente gravosas como aquelas que assolaram Portugal nos últimos cinco dias”, sublinha.
Vinte e cinco mil dos 38 mil hectares de área consumida pelas chamas deste o início do ano foram adicionados na última semana, com temperaturas escaldantes registadas em Portugal.
Carlos da Câmara diz que num incêndio registado esta sexta-feira, em Montesinho, a energia libertada chegou aos 950 megawatts, “mais de três barragens da Aguieira em termos de energia por unidade de tempo”.
O caráter mais potente e imprevisível dos incêndios dificulta o pré-posicionamento de meios.
Nos últimos anos “as forças de combate, de antemão, sabiam onde é que poderia haver esses fogos com maior dificuldade em ser combatidos e já estavam previamente posicionadas. Nesta altura, é mais complicado porque o inimigo está em toda a parte e é muito difícil combater o fogo, porque depois do ataque do inimigo dificilmente ele vai ser dominado nos dias seguintes”, sublinha o climatologista.
Outro problema são as noites tropicais, com temperaturas de 25 e mais graus, com pouca humidade e vento, afirma Carlos da Câmara.
Na última semana, os incêndios de maior dimensão têm deflagrado no Litoral.
Em declarações à Renascença, o professor Paulo Fernandes, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), admite que o Interior esteja a ser menos fustigado devido à área queimada noutros anos.
Os incêndios florestais consumiram este ano mais de 38 mil hectares, cerca de 25.000 dos quais na última semana, a maior área ardida desde 2017, o ano da tragédia de Pedrógão Grande, segundos dados provisórios do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
O professor Paulo Fernandes sublinha que as contas da área ardida só podem ser feitas no fim.