O secretário-geral adjunto do PS desafiou esta terça-feira a TAP a corrigir o plano de rotas aéreas tornado público, considerando que a decisão da Comissão Executiva da transportadora aérea de reduzir voos e destinos "lesa o interesse nacional".
Em conferência de imprensa, na sede nacional do PS, José Luís Carneiro defendeu que "decidir reduzir o número de voos e de destinos, colocando em causa pontos de partida e pontos de chegada relevantes para a economia nacional" pode colocar em causa os objetivos estratégicos definidos para a companhia de bandeira do Estado português.
"Para o continuar a ser, a TAP tem de estar alinhada com o interesse estratégico do Estado português. Este anúncio da comissão executiva coloca em causa esse objetivo estratégico e o suporte da decisão política de o Estado ter uma parceria com esta companhia logo que o Governo assumiu funções, em 2015", afirmou.
Questionado sobre o futuro da TAP, José Luís Carneiro remeteu essa análise para o Governo e preferiu instar a companhia a corrigir a decisão de "redução de voos e destinos".
"O PS interpela a TAP a corrigir o plano de rotas aéreas tornado público, tendo em vista corresponder aos legítimos interesses nacionais e regionais em apreço", desafiou.
Para o secretário-geral adjunto socialista, "se os portugueses estão a ser chamados a assumirem maiores responsabilidades financeiras" na TAP, só o poderão fazer "se a companhia assumir a sua condição de elemento estratégico o país, útil a todo o território nacional".
"A TAP, se recorre aos apoios públicos, tem que estar alinhada com os interesses do Estado português", sublinhou.
O PS alinha assim com as críticas já feitas esta terça-feira pelo presidente do PSD. Rui Rio considera que, como este plano de retoma das ligações aéreas, a companhia aérea transformou-se numa “empresa regional” e “não pode ter os apoios de uma empresa que é estrategicamente importante para o país”.
Bancada do PS chama presidente da TAP
No Parlamento, a bancada do PS já fez saber que quer chamar à Assembleia da República com caráter de urgência o presidente da TAP, Miguel Frasquilho, para explicar as decisões da comissão executiva da TAP.
O vice presidente da bancada socialista Carlos Pereira e o deputado Hugo Carvalho consideram que há "uma desproporção grande entre os voos com origem e Lisboa em relação aos que saem do aeroporto do Porto".
Nacionalizar a TAP?
Na conferência de imprensa do secretário-geral adjunto do PS José Luis Carneiro escusou-se a dizer se o PS defende a nacionalização da TAP, reiterando que a decisão agora anunciada "contraria valores essenciais" para os socialistas e que justificaram o reforço da posição estatal em 2015.
"Vamos aguardar pelo modo como quer o conselho de administração quer a comissão executiva reagem a esta interpelação que lhes está a ser feita não só pelo PS, mas por muitas forças vivas da sociedade civil portuguesa e por muitas das instituições que cuidam do desenvolvimento do país", disse.
Questionado se o PS acompanha as críticas feitas por vários autarcas do Norte, incluindo o presidente da Câmara do Porto, o independente Rui Moreira, pelo reduzido número de voos previstos com origem e destino nesta cidade, o dirigente socialista considerou que no plano previsto pela TAP "não está apenas em causa a Região Norte".
"Está também em causa todo o Algarve, a Região Autónoma da Madeira e pode estar em causa também a dos Açores. O que está em causa com este plano de voos e de destinos é o alicerce do que é visão do interesse nacional para o PS", salientou.
Além de Rui Moreira, outras vozes autárquicas do norte alinharam nas mesmas críticas. Em declarações à Renascença, o presidente do Conselho Regional do Norte e autarca de Caminha, Miguel Alves, fala de "erro estratégico e clamoroso que prejudica o norte".
"Com esta medida, a TAP está a cercar o Norte e a perder o Norte", diz Miguel Alves.
"Estamos a fazer muito mal ao país", diz AEP
A TAP publicou na segunda-feira o seu plano de voo para os próximos dois meses que implica 27 ligações semanais em junho e 247 em julho, sendo a maioria de Lisboa, de acordo com dados divulgados pela companhia aérea.
Ao longo deste mês e à medida que foram levantadas algumas das restrições impostas às companhias aéreas, a TAP foi adicionando voos, nomeadamente para Londres e Paris, entre Porto e Lisboa, dois voos por semana para São Paulo e um voo semanal para o Rio de Janeiro, sendo que, com isso, a operação da TAP no final do mês de maio será de 18 voos por semana.
Em junho, de acordo com o mesmo plano, a companhia aérea planeia voltar a operar mais voos intercontinentais, incluindo dois por semana para Nova Iorque (Newark), um para Luanda, a partir de dia 15, e outro para Maputo. Em Portugal, as ligações entre Lisboa e a Madeira passarão a ser diárias, sendo que no final de junho a TAP contará com 27 voos semanais.
Em julho, o plano da companhia aérea aponta para 247 voos por semana, com um reforço das redes europeia e intercontinental, um valor de perto de 19% da sua operação normal, que chegava aos três mil voos semanais antes da pandemia.