Afinal, 2035 pode não ser ainda o ano da proibição total da produção de veículos a combustão na União Europeia. Há agora uma proposta - apoiada por Portugal - para que o prazo seja adiado para 2040.
O primeiro-ministro, António Costa, justifica a posição com o investimento que a transição irá obrigar para as famílias europeias, a grande maioria ainda com automóveis movidos a gasolina ou gasóleo.
“A proposta da Comissão é que, a partir de 2035, os veículos tenham que ser 100% zero emissão, aquilo que nós propomos é que passem a ser 90% de emissão. O que permite durante esses cinco anos ainda haver outro tipo de veículos”, afirmou esta sexta-feira António Costa, no final da reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas.
O primeiro-ministro considera que essa transição para viaturas sem gasóleo ou gasolina representa um “esforço enorme de investimento” para as famílias e é preciso ir preparando esse cenário.
“A generalidade das pessoas ainda tem veículos de combustão normal. Esse esforço de transição é enorme e vai pesar, sobretudo, sobre as famílias. É preciso ir preparando essa transição, porque isto vai exigir um esforço muito grande de toda a gente.”
Ao contrário do que pretende a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu, há agora uma proposta de alguns Estados-membros - apoiada por Portugal - para que os veículos a diesel e a gasolina ainda possam ser produzidos até 2040.
Como está a ser recebida esta proposta? O que dizem, por exemplo, os ambientalistas?
Francisco Ferreira, da associação ambientalista ZERO, ficou “gelado” com esta notícia e lamenta a proatividade de Portugal para bloquear - com outros países - essa proibição já em 2035.
“Este á um balde de água fria naquilo que é a política climática de Portugal, habitualmente, à escala europeia, considerada na linha da frente. Ficámos surpreendidos porque é Portugal a fazer marcha-atrás, juntamente com a Roménia, a Bulgária, a Itália…”, lamenta Francisco Ferreira.
A ZERO opõe-se ao adiamento, mas também há quem aplauda a proposta, como o presidente do Automóvel Clube de Portugal. Carlos Barbosa acredita que nem em 2050 a ideia irá avançar e que o assunto apenas se colocou agora por culpa dos “burocratas europeus que nada sabem de mobilidade”.
“Não se sabe qual é o futuro da energia e dos combustíveis, portanto, é natural que não se possa com esta antecedência legislar sobre o futuro”, afirma Carlos Barbosa.
Também Hélder Pedro, o secretário-geral da ACAP - Associação Automóvel de Portugal, se manifesta favorável a um adiamento da proibição do fabrico de veículos a combustão.
“Tivemos vários contactos com o Governo português sobre esta matéria, e a nossa compreensão era que o Governo percebesse que era uma decisão precipitada em 2022 estar a tomar esta decisão já para 2035, quando a tecnologia pode evoluir, tem que se avaliar o impacto socio-económico da medida para toda a fileira da indústria”, sublinha o secretário-geral da ACAP.