Pinto Luz mantém dossiê da privatização da TAP
04-09-2024 - 18:03
 • Susana Madureira Martins

O entendimento no Governo é o de que tirar a gestão da operação ao ministro das Infraestruturas seria uma desautorização a Pinto Luz. Montenegro segura o seu vice-presidente no partido em toda a linha.

Miguel Pinto Luz vai manter-se na gestão da privatização da TAP, estando fora de questão tirar o dossiê das mãos do ministro das Infraestruturas para colocá-lo, por exemplo, na alçada do primeiro-ministro ou (ainda menos) na do secretário de Estado das Infraestruturas.

A Renascença sabe que, para além de segurar o ministro das Infraestruturas no Governo, Luís Montenegro não tem qualquer intenção de tirar as negociações de alienação da TAP das mãos de Pinto Luz. No Governo considera-se que isso seria tirar toda autoridade ao ministro e fragilizar uma pasta com um dossiê tão sensível.

Para o executivo, o que vale são as declarações prestadas aos jornalistas pelo primeiro-ministro e líder do PSD à entrada de um encontro com militantes, em Lisboa. “Foi clarinho”, considera-se no núcleo duro do executivo da AD.

Questionado se Pinto Luz tem condições para liderar o processo de privatização da companhia aérea, o primeiro-ministro optou por não responder diretamente à pergunta, mas elogiar o trabalho do ministro das Infraestruturas em áreas “muito relevantes” como a localização do novo aeroporto ou a estratégia para a ferrovia.

Na sequência da divulgação do relatório da Inspeção Geral de Finanças (IGF) sobre a TAP, as oposições ao Governo não pediram taxativamente a demissão do ministro das Infraestruturas.

Alexandra Leitão, líder parlamentar do PS, por exemplo, desafiou Montenegro a dizer se “mantém a confiança política em Miguel Pinto Luz para dirigir o processo de privatização da TAP”. E Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, questionou a “idoneidade” do governante para se manter a gerir a operação.

Montenegro, nas declarações que fez aos jornalistas esta terça-feira, segurou o ministro, referindo que Pinto Luz não está fragilizado, mas “fortalecido pelo excelente trabalho”, acrescentando que o relatório da IGF “não tem novidade”.

No Governo, o entendimento é que o ministro e vice-presidente do PSD está de pedra e cal e sem nenhum tipo de reserva na gestão de uma pasta considerada colossal, que integra também a Habitação. E a privatização da TAP.

Assim sendo, e, pelo menos para já, Montenegro não vai mexer um músculo perante as dúvidas das oposições sobre a atuação passada e futura de Pinto Luz na operação de privatização da TAP. Mesmo tendo em conta a eventual perceção externa dos potenciais interessados na compra da companhia aérea.

O Governo conta, assim, com Pinto Luz para, a par do ministro de Estado e das Finanças, dirigir as negociações da operação. Esta semana decorreu uma reunião dos dois ministros com o topo da administração da Lufthansa e, como a Renascença já contou, o executivo quer marcar reuniões com as administrações de outras companhias como a Air France-KLM e o International Airlines Group (IAG), que detém a British Airways e a Iberia. E conta com a presença de Miguel Pinto Luz.