Todos os dias somos inundados com decisões, desde as mais simples, como o que vestir, até às mais complexas, como pedir um empréstimo, mudar de país ou fazer uma operação.
Com tanta informação e opções disponíveis, decidir tornou-se uma tarefa complexa. A tentação de recorrer a especialistas ou tecnologia é enorme, mas nem sempre será a mais acertada. Já alguma vez se perdeu por seguir cegamente o GPS? Já se arrependeu de ter trocado o seu instinto pelos conselhos de um especialista? Então sabe do que fala Vikram Mansharamani, professor, investidor e autor, que se apresenta como um generalista.
A saúde é um dos exemplos mais fáceis de dar, explica. “Como é que posso tomar a decisão médica perfeita sobre a saúde do meu coração? Não sou cardiologista! Há muitos dados, há um cardiologista e pode haver alguém ainda mais específico.”
Como vivemos numa luta constante pelo ótimo, a tendência é para procurar a melhor das soluções. Como? “O que fazemos é desmontar este mundo complexo. Dividimos a informação em pequenos compartimentos e dentro de cada um encontramos especialistas, que conhecem cada domínio muito bem. Assim podemos talvez encontrar o consultor ideal, em qualquer hora, para qualquer escolha”. Vikram Mansharamani chama-lhe “pensamento terceirizado.”
O problema, avisa o professor de Harvard, é que ninguém olha para o cenário geral: “Progredimos tão bem em termos de conhecimento e informação, que os especialistas estão a alcançar conclusões fabulosas. A preocupação é que agora faltam pessoas que liguem estes pontos, de forma a encontrar valor integrado entre estas descobertas”.
São explicações dadas por Mansharamani na Harvard Business Review, onde tudo começou, a partir da publicação de um artigo que levantou polémica e foi muito comentado, em que criticava as especializações.
Agora tem um livro, já publicado em Portugal, “Pense pela sua cabeça” (Actual Editora), onde explica como abdicámos do poder de decisão e o que podemos fazer para o recuperar.
Uma das soluções, diz, passa por “diminuir o zoom”, “para ter uma visão maior”. Depois pode decidir “o nível correto de análise para o ajudar a enfrentar o desafio em mãos.”
“É realmente importante, sobretudo em ambientes dinâmicos e complexos, prestar atenção ao contexto. Os que têm um foco profundo e estreito, tendem a prestar menos atenção ao que os rodeia. Mas para gerir um especialista, é preciso ter uma visão mais ampla,” exemplifica o autor.
A desvantagem do foco é que estamos tão concentrados na tarefa em mãos que acabamos por criar ou alimentar o problema. Um dos exemplos que dá no livro são os superalimentos: está provado que são benéficos em muitas situações, mas o mesmo produto pode provocar efeitos negativos, como as sementes de chia que interferem com a absorção de minerais. Além disso, uma parte da população terá sempre uma reação adversa a estes alimentos.
Isto não implica virar as costas aos especialistas, pelo contrário, é saber decidir com bom senso, pela própria cabeça: “trata-se de manter os especialistas próximos, mas não no topo. Não sugiro, de modo algum, que a contribuição dos especialistas seja inútil, é absolutamente essencial que eles saibam mais sobre determinadas matérias e devemos ouvi-los”. A questão é como o fazemos. “O que questiono é a confiança cega, a terceirização estúpida do pensamento. Não tenho nenhum problema que confie no seu médico, até encorajo que o faça! O que quero realmente é que seja uma escolha consciente”, acrescenta.
Do ponto de vista laboral, os especialistas até garantem um melhor salário a curto prazo, mas os generalistas têm estabilidade nos rendimentos. “Um generalista pode explorar e investigar diferentes opções no curto prazo, mas isso tem um custo, a contribuição que damos à empresa não tem tanto valor, quando fazemos um pouco de tudo.” O Ideal, diz Vikram Mansharamani, é combinar os dois.
Como é que um especialista diversifica as competências? Pode começar por ler sobre outros temas; abordar os problemas de diferentes perspetivas; estar em permanente aprendizagem, onde e com quem quer se esteja; ponderar os prós e os contras de cada questão.
Questionar e desafiar os especialistas é o mantra do livro. O autor desafia o leitor a “ser dono das próprias decisões”, sem medo da incerteza porque, afinal, as previsões podem ser uma “futilidade”. No final, deve imperar o bom senso.