No discurso de arranque do congresso do Chega, na sexta-feira, André Ventura já tinha avisado que não estava “com meias tintas” e, na moção que finalmente tornou pública, já depois dos trabalhos de sábado terem começado, o líder do Chega estabelece por escrito a meta para as legislativas e diz que quer desde já “consolidar e preparar o partido para alcançar 10% – 15% dos votos nas próximas eleições legislativas”.
Na moção que vai sujeitar aos votos dos congressistas, Ventura diz que quer o tornar o partido “indispensável à formação e viabilização de qualquer Governo” e não quer “abdicar da participação ministerial num governo eventualmente liderado pelo PSD” – ou seja, não há meio termo, com o líder do Chega a concluir que “uma solução de mero apoio parlamentar será para o partido ainda mais nociva do que a situação atual”.
Aos militantes, Ventura pede de novo que deixem “claro que apenas uma negociação clara, efetiva e transparente, com possibilidade e autonomia para a concretização de algumas das nossas grandes bandeiras, levará à viabilização parlamentar de um Governo de direita”.
A não ser assim, o líder do Chega garante que a atitude do partido "não deverá ser diferente" da que tem "atualmente com o Governo socialista, pois nenhumas garantias teremos de que uma governação social-democrata (mesmo com centristas e liberais) será substancialmente diferente daquela que atualmente é conduzida pelo primeiro-ministro António Costa".
Tal como já vem defendendo, Ventura deixa escrito na moção que há áreas fundamentais para o partido: justiça, sistema fiscal, Segurança Social, administração interna, emprego e defesa nacional.
É o caderno de encargos deixado internamente e para que o PSD de Rui Rio saiba com o que tem mesmo de contar.
À terceira convenção, Ventura diz que "chegou o momento de tomar decisões fundamentais", cabendo ao "congresso decidir se e em que termos quer fazer parte de um Governo de Portugal", com o líder a colocar-se uma vez mais nas mãos dos militantes e dos conselheiros nacionais.
E, tal como já tinha feito na abertura do congresso de Coimbra na sexta-feira, Ventura quer deixar claro que é preciso o partido afastar-se dos "apelos de moderação ou de menor intensidade de ação, quer devido aos clamores dos restantes partidos de direita, quer devido a um eventual receio de ilegalização". A estratégia é "não mudar de rumo".
Na moção, Ventura estabelece ainda como objetivo imediato "alcançar o terceiro lugar em termos de número de votos nacionais nas eleições autárquicas deste ano" e internamente avisa que é preciso manter "a firme aplicação de regras de ética e disciplina se mantenha, mesmo com as conhecidas dificuldades de aplicação".
O partido cresceu, diz sempre Ventura apoiando-se nas sondagens que dão o Chega como quarta ou mesmo terceira força política, sendo "fundamental não voltar ao tempo em que as redes sociais serviam quase exclusivamente para lavar roupa suja e perturbar o crescimento externo do partido e a sua boa imagem". Uma espécie de lei da rolha face ao clima cíclico de hostilidade que se vive em muitas distritais do partido e que serve para que o partido não se desconcentre do essencial.
Ventura assume que o partido "está numa enorme encruzilhada histórica" e que "está debaixo de tremenda ameaça institucional que poderá colocar em causa, efetivamente, a sua sobrevivência", garantindo que não aceitará "uma decisão judicial de ilegalização do partido", pedindo que o congresso defina "os termos e os modos de luta e resistência, caso o sistema remeta o partido para a ilegalidade e para a clandestinidade".
Resumindo, o primeiro objetivo de Ventura está traçado à terceira convenção/congresso que o partido realiza: integrar o Governo que sair das próximas legislativas.
O segundo objetivo é interno: sobreviver à dores de crescimento e garantir que o partido não se perde "em jogos de bastidores", nem a subalternização "aos interesses obscuros do sistema e dos seus tentáculos".