O conflito na Síria, que dura há mais de cinco anos, já resultou em 2,4 milhões de crianças refugiadas, provocou a morte de muitas e levou ao recrutamento de crianças para o combate armado. Algumas destas crianças-soldado chegam a ter apenas sete anos, segundo o relatório da UNICEF divulgado esta segunda-feira.
Cerca de uma em cada três crianças sírias nasceram depois do início do conflito há cinco anos, o que significa que as suas vidas têm sido moldadas pela violência, pelo medo e pelas deslocações, descreve o relatório “No Place for Children” (Um local que não é para crianças). Este número inclui mais de 306 mil crianças nascidas como refugiadas desde 2011.
A UNICEF estima que mais de 80% da população infantil síria esteja a ser afectada pelo conflito.
“Na Síria, a violência tornou-se uma prática comum, atingindo casas, hospitais, escolas, centros de saúde, parques, jardins infantis e locais de culto”, afirma, no relatório, Peter Salama, director regional da UNICEF para o Médio Oriente e Norte de África. “Perto de sete milhões de crianças vivem na pobreza – uma infância marcada pela perda e pela privação.”
Este relatório da UNICEF verificou 1.500 violações graves praticadas contra crianças, incluindo mais de 60 casos de morte e mutilação resultantes do uso de explosivos em zonas de habitação. Destas crianças, mais de um terço foram mortas na escola ou a caminho da escola.
O número de refugiados nos países vizinhos da Síria cresceu dez vezes desde 2012 e metade de todos os refugiados são crianças. “Nestes cinco anos de guerra, milhões de crianças cresceram demasiado depressa e antes do tempo", declara Peter Salama. “Com a continuação do conflito, as crianças continuam à mercê de uma guerra de adultos, continuam a não ir à escola, muitas vêem-se obrigadas a trabalhar e muitas raparigas casam precocemente.”
Grupos armados recrutam crianças cada vez mais novas
Segundo o relatório, que faz o balanço do impacto dos cinco anos de guerra na vida das crianças sírias, ao início, a maioria das crianças recrutadas pelos exércitos e grupos armados eram rapazes entre os 15 e os 17 anos de idade e usados sobretudo em funções longe das linhas da frente.
Porém, nota o relatório, desde 2014, todas as partes envolvidas no conflito têm recrutado crianças muito mais novas, algumas com apenas sete anos, e frequentemente sem o consentimento dos pais. Mais de metade dos casos em 2015 envolvia crianças menores de 15 anos. Em 2014, esta percentagem era de 20%.
A UNICEF alerta que “estas crianças recebem treino militar e participam em combates, ou são encarregadas de tarefas na linha da frente que põem a sua vida em risco, incluindo o transporte e manutenção de armas, a vigilância em postos de controlo, o tratamento e evacuação de feridos de guerra”. As partes neste conflito, aponta a organização, estão também a usar as crianças para matar em execuções ou como atiradores furtivos.
Mais de 2.1 milhões de crianças não vão à escola
Para a UNICEF, um dos maiores desafios no conflito sírio “tem sido proporcionar às crianças oportunidades de aprendizagem”.
O relatório indica que as taxas de frequência escolar atingiram níveis mínimos: mais de 2.1 milhões de crianças no interior do país e 700 mil nos países vizinhos não vão à escola.
“Não é demasiado tarde para as crianças sírias”, sublinha o director da UNICEF para o Médio Oriente e Norte de África. “Elas continuam a ter esperança numa vida com dignidade e oportunidades. Elas continuam a acalentar sonhos de paz e a possibilidade de os concretizar.”
A UNICEF e organizações parceiras lançaram por isso a iniciativa “No Lost Generation” (Não a uma geração perdida), que está “empenhada em restaurar a aprendizagem e proporcionar oportunidades para os jovens”.